Câmara de Coimbra quer criar zona com limite de 30 km/hora no Norton de Matos
A vereadora da Câmara de Coimbra com a pasta da mobilidade afirmou ontem que o município está a trabalhar num projeto para transformar o bairro Norton de Matos numa zona com limite de velocidade de 30 km/hora.
“Para mim, o bairro Norton de Matos é uma zona 30 por natureza. Tem uma estrutura perfeitamente compatível, é apenas uma questão de investimento na infraestrutura e de requalificação do espaço público”, disse a vereadora Ana Bastos, que falava à agência Lusa após ter participado num dos painéis da conferência “Espaço Público Partilhado – O Desafio”, organizada pela Câmara de Coimbra, durante a Semana Europeia da Mobilidade.
Para a responsável, não pode haver “simplesmente ruas com estacionamento de um lado e do outro”, como existe agora naquele bairro situado na cidade de Coimbra, considerando que o estacionamento não pode dominar o espaço público, que tem de ser dominado “pelo verde”, com “parques e zonas de fruição urbana”.
Segundo Ana Bastos, docente especialista na área e que coordenou o manual de apoio à implementação das zonas 30 para a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), não basta afixar placas a definir o limite de velocidade.
Entre as intervenções necessárias estão medidas físicas de acalmia de tráfego, que podem até ser aplicadas, em alguns casos, através da regulação do estacionamento na zona.
“Em vez de termos o estacionamento como existe, de um lado e do outro, podemos, em arruamentos onde isso seja possível, pôr o estacionamento em espinha de um lado da via, que depois passa para o outro e, com isso, criamos gincanas naturais. Não perdemos grande capacidade de estacionamento e criamos medidas que impedem fisicamente o automobilista de andar a mais do que a velocidade que estipulamos para o local”, referiu.
De acordo com Ana Bastos, a intervenção naquele bairro não poderá ser por “imposição da Câmara de Coimbra”, sendo necessário o envolvimento da população para que esta possa abraçar o projeto.
A vereadora referiu que o bairro Norton de Matos poderia ser um caso “excecional para servir de modelo de referência a outras situações a nível nacional”.
Num dos painéis, estava prevista a presença da vice-presidente da ANSR, Ana Tomás, que acabou por não estar presente, com Ana Bastos a referir que iria aproveitar aquele momento para desafiar aquela instituição pública a assegurar programas de financiamento para implementar zonas 30.
A responsável sublinhou que o município já demonstrou à ANSR que teria toda a disponibilidade para participar num projeto-piloto nesse âmbito.
No painel sobre espaço público partilhado, Mário Alves, da MUBi (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta), defendeu que este tipo de projetos deve envolver equipas multidisciplinares, não apenas com arquitetos e engenheiros, mas com “psicólogos, agentes sociais, animadores”, num trabalho que tem de ir para a rua e falar com as pessoas.
O especialista recordou que há várias experiências que concluem que a velocidade média de um carro é de 14 km/hora (quilómetros por hora) numa cidade em que o limite é 50 km/hora e que, mudando o limite para 30 km/hora, passaria a ter uma velocidade média de 13,5 km/hora.
“Numa viagem de dez minutos, estamos a acrescentar um minuto. Mas explicar isto é mais complicado”, admitiu, recordando que, em Bruxelas, há mais de um milhão de pessoas “a viver dentro de uma zona 30 e é completamente funcional”.
Se em Portugal os passos no sentido de se criarem zonas 30 são tímidos, noutros pontos da Europa “já não se pensa em zonas 30, mas em cidades 30”, constatou.