Agricultores do Centro mantêm protesto apesar dos apoios anunciados pelo Governo
Os agricultores da região Centro do país irão manter o protesto de quinta-feira, com cortes de estradas por máquinas agrícolas, apesar das medidas de apoio hoje anunciadas, desconfiando das intenções do Governo e criticando associações do setor.
“Estas medidas agora anunciadas pelo Governo são para nós, apenas, uma carta de boas intenções. É um Governo que está em gestão, está demissionário, temos de perceber que grande parte dessas medidas iriam ser implementadas ou serão verificadas já no próximo Governo”, disse à agência Lusa Ricardo Estrela, porta-voz da região das Beiras do movimento cívico Agricultores de Portugal.
“Mas temos tudo para desconfiar, porque as promessas que têm sido feitas ao longo dos anos não são cumpridas. Isto foi um atraso nas medidas, estamos a falar de apoios à produção que deveriam ter sido pagos em 2023, foram pagos em 2024 e com cortes sem serem anunciados, mostrando total desrespeito pelo setor agrícola”, vincou Ricardo Estrela.
O também produtor de gado ovino no distrito de Castelo Branco, deixou também críticas a organizações e associações representativas do setor agrícola, frisando que estão “desacreditadas” junto dos agricultores.
Sobre o protesto, agendado para a madrugada de quinta-feira em vários locais do interior do país, considerou-o transversal a diversos setores agrícolas e demonstrativo de que os agricultores estão cansados de “políticas erráticas” ao longo dos anos e de sucessivas promessas não cumpridas.
“O que temos de fazer são medidas de protesto, que irão passar, obviamente, pelo corte de algumas vias. Vamos cortar um ou outro acesso ao país, mas ficam outros abertos, vamos causar algum transtorno, vamos obrigar as pessoas a passarem por percursos menos habituais e com piores acessos e com piores estradas”, revelou o agricultor do distrito de Castelo Branco.
Sem revelar grandes pormenores sobre o protesto agendado para a região das Beiras, Ricardo Estrela anunciou que o local de concentração das máquinas e tratores agrícolas será junto ao nó de acesso à autoestrada 25 (A25), de ligação entre Aveiro e Vilar Formoso, num local conhecido como Alto de Leomil (concelho de Almeida, distrito da Guarda), por onde se faz umas das ligações à aldeia histórica de Castelo Mendo, a cerca de 15 quilómetros da fronteira.
A concentração está prevista para começar a partir das 04:30 de quinta-feira, sendo de prever o possível corte da A25 naquele local, a exemplo de outros protestos anunciado pelo país, com cortes de vias e acessos às fronteiras com Espanha.
Ricardo Estrela, que é administrador de uma sociedade agrícola e de uma herdade privada considerada a maior do país, notou, no entanto, que o protesto do movimento Agricultores de Portugal diverge das manifestações que têm ocorrido em França e noutros países europeus, já que não pretende ser violento.
“Se acabasse por ser violento significaria que tínhamos perdido o controle da situação”, argumentou. Por outro lado, as reivindicações dos agricultores portugueses também se diferenciam das dos seus colegas franceses, com exceção de uma, as regras europeias impostas aos agricultores dos estados-membros da UE, para garantir a qualidade dos produtos, não observadas por países fornecedores de fora do espaço europeu, naquilo que acusam ser concorrência desleal.
“Somos solidários com França e sentimos na pele os problemas que os agricultores franceses sentem. Mas os nossos problemas são bem mais primários e bem mais profundos”, alegou o agricultor.
As diferenças para os agricultores franceses e alemães notam-se, também, por exemplo, na qualidade da maquinaria agrícola existente: “Quem assistir ao nosso protesto e verificar as imagens dos tratores franceses na televisão, vê logo a diferença. Aqui há tratores com 30 anos, porque as pessoas, muitas vezes, não têm meios para os renovarem”, ilustrou Ricardo Estrela.