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Opinião: A caminho dos antípodas

31 de janeiro às 11h36
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É cada vez mais urgente, mas há já muitos anos que Portugal (e a União Europeia) tem consciência de que o ambiente é um valor a preservar, a proteger e a melhorar. Assegurar uma prudente e racional utilização dos finitos recursos naturais é essencial para a protecção da saúde e qualidade de vida das pessoas, devendo por isso constituir uma acção política prioritária. A nossa Constituição assegura-nos tanto o direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado, como nos atribuiu a competência e o dever de o defender. É um direito e um dever social, a par da saúde, família, segurança social e tantos outros.
A Nova Zelândia foi mais longe, quando em 2014 se tornou no primeiro país do mundo a reconhecer caraterísticas naturais como pessoas, concedendo personalidade à floresta Te Urewera, que o governo entregou à tribo nativa. Seguiu-se um rio e uma extensão de terra, e agora há dias aprovou, por unanimidade, uma lei a atribuir ao monte Taranaki Maunga todos os direitos e deveres de um ser humano, reconhecendo que esta montanha (um vulcão adormecido) é, a final, uma pessoa, “um todo vivo e indivisível”. Em concreto, e nas palavras de Paul Goldsmith, o legislador responsável pelos acordos entre o governo e as tribos maoris, “A montanha tem sido, desde há muito, um antepassado honrado, uma fonte de sustento físico, cultural e espiritual e um local de descanso final”.
Ao que parece, só deste modo a Nova Zelândia consegue defender a saúde e bem-estar da montanha, respeitar as práticas tradicionais e permitir o trabalho de conservação para proteger a vida selvagem nativa que lá floresce. Pelos vistos, não se encontrou outra solução de acudir aos protestos das populações indígenas, no caso os maoris, minimizando o impacto do turismo (caminhadas e desportos de neve). No fundo, foi o caminho encontrado por uma “envergonhada” Nova Zelândia para pagar milhares de milhões de dólares de indemnização às tribos indígenas, como forma de lhes pedir desculpa pelo “roubo” da montanha aquando do período colonizador.
Não sei se a prática de esqui é ancestral, mas a nova gestão da montanha anunciou que o acesso do público será de manter. Certo é que a aprovação da lei evita o desconforto dos protestos e enquanto houver território neozelandês para “devolver” e dinheiro para gastar, a consciência “moderno-progressista” não entra em stress. Talvez um novo dia chegará quando as lontras da reserva natural do Paul de Arzila souberem ler.

Autoria de:

Paulo Almeida

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