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Opinião: Portugal não é para jovens ricos

03 de junho às 09 h41
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Que Portugal não é para jovens já todos sabíamos. Agora ficamos também a saber que Portugal também não é para jovens “ricos”. Se não fosse Portugal, este debate seria sobre política fiscal. Sendo Portugal, este debate não é sobre a folha salarial mas sim sobre a pobreza cultural, de pseudónimo igualitarismo, que se alimenta há gerações da falta de mobilidade económica ascendente. No nosso caso, não deve impressionar a já tradicional politização da desigualdade como instrumento de cacique eleitoral e pesca de votos por arrasto – é a regra do jogo. O que mais deve preocupar é a narrativa indigente que anima o desfile populista de cancelamento dos jovens com salários mais elevados em Portugal – é a cultura do jogo. Isto, associado ao novel movimento anti-Piketty da ala Pikettysta e somado a uma espécie de jornalismo woke, compõe um espetáculo digno de um Mark Twain Award. É irónico: por um lado, queremos “agendas de trabalho digno” para o melhor capital humano; por outro, é imoral premiar o melhor capital humano. Faz sentido, certo? Não faz, mas é por isso que este debate não tem nada de política fiscal e tudo de cultura nacional. No nosso país, o problema estrutural não está na folha salarial mas sim na falta de perspectiva de mobilidade social – é a triste realidade do jogo. A conversa extasiada que nivela necessariamente todos por baixo é o melhor serviço que a pátria política e jornalística podem prestar à emigração ativa das novas gerações – a Europa e o Mundo agradecem os jovens “ricos” portugueses. Aliás, como economia aberta é recomendável que continuemos a exportar o que de melhor temos em Portugal, até para não estragar a monocultura e aquilo que parece ser a nossa maior especialidade: manter todos no mesmo nível por gerações e gerações.

Autoria de:

Rui Duarte

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