Opinião – Vai mudar alguma coisa?

Aí estão as eleições que determinam a composição da Assembleia da República e que darão ao Presidente da República a possibilidade de convidar o político do partido vencedor para formar o governo que estará em funções sabe se lá por quanto tempo.
A leitura dos programas que cada partido democrático apresenta ao eleitorado, no que à Educação diz respeito, traz as previstas e anunciadas “novidades”: nada de novo.
Todos se debruçam inevitavelmente sobre a melhoria da formação de professores e o apoio às suas deslocações, a gratuitidade do pré-escolar, a constituição das turmas, a direção das escolas, o reforço dos programas de investigação, a escola inclusiva, a atratividade de mais jovens para o exercício da profissão docente. Evidentemente que estamos perante problemas que afetam as escolas, que preocupam as famílias, que confrontam as autarquias com a capacidade de tornarem mais acessíveis os estabelecimentos de ensino das suas regiões.
O que verdadeiramente acontece é que ninguém quer mexer num sistema educativo que está fragilizado com uma Lei de Bases já fora de tempo, num estatuto da carreira docente anquilosado, numa maneira de refrescar a direção das escolas, numa outra forma de participação dos encarregados de educação, numa mudança do estatuto dos alunos que acompanhe as mudanças que a sociedade exige.
Passemos em revista algumas das questões que poderiam estar nos programas desses partidos. Vamos lá por partes.
O atual 2º ciclo do ensino básico é um fruto enxertado na árvore do ensino obrigatório que há muito deveria merecer outra atenção, sendo verdade que não há quem lhe queira mexer. Porque das duas uma: ou se o considera num ensino básico de seis anos ou se assume que ele deve fazer parte do ensino secundário de oito anos. Eu sei, todos sabemos, que há muitos interesses por detrás desta cortina e não é de bom tom mexer naquilo que vai levantavozes discordantes.
Outra questão. Reconhece se que os alunos passam muito tempo nas escolas e isso não é bom nem para professores nem para os outros funcionários dos estabelecimentos de ensino. Mas poucos admitem que se reconfigurem os currículos criando disciplinas de integração que aliviem a carga horária. Ouço criticarem a existência da educação para a cidadania (existente em quase todos os sistemas educativos da Europa), que poderia ser um espaço de reforço do conhecimento da história do nosso passado de cem anos, mas poucos aceitam que se toque nas disciplinas hoje existentes.
Mais uma questão. Se conseguirmos diminuir as cargas curriculares, as tardes de dois ou três dias da semana poderão permitir às escolas cederem as suas instalações a clubes e associações locais para desenvolverem as suas atividades, incluindo a possibilidade de sentirmos que a intergergeracionalidade é uma necessidade dos tempos que correm e que poderá contribuir para um melhor entendimento dos velhos pelos novos e dos novos pelos velhos.
E é tudo isto (e muito, muito mais) que falta aos partidos democráticos para demonstrarem que entendem o mundo em que hoje nos movimentamos. Somos capazes de perder horas, dias, meses, anos a discutir se construímos armas e se baixamos as pensões de reforma a quem trabalhou uma vida, mas não temos uma dúzia de palavras para a necessidade urgente da paz, para a luta que temos de travar para que os loucos não invadam o universo e o destruam.
Os partidos políticos, para além do aliciamento de votos, têm obrigação de dar à Escola os meios de que necessita para ajudar as famílias a educarem melhor as gerações mais novas. Claro que esta é uma grande tarefa social. Claro que as crianças e os jovens têm de passar mais tempo com as famílias. Claro que a educação passa por inculcar valores e princípios. Claro que valores e princípios se obtêm desde a mais tenra idade. Claro ainda que estamos a viver uma época em que fracos políticos fazem fraca a forte gente e disso temos o exemplo de quem dirige hoje a Europa, desorientada quanto ao rumo que se deseja para ela.
E não seria possível aos políticos da casa olharem um bocadinho mais para a necessidade de ajustarem a formação das nossas crianças aos tempos que voam, sem medo e a pensarem num futuro melhor?
Por aqui me fico. Votem no dia 18 de maio, ajudem a preservar a Democracia!