Opinião: Uma mini-lua eclipsou uma estrela
Na semana passada estive na conferência «O Sistema Solar Transneptuniano – TNO2024», em Taipé. Seis dias dedicados exclusivamente à apresentação e discussão de novas descobertas, de novos resultados e de novos modelos, hipóteses e teorias, sobre o fascinante mundo do nosso sistema solar para além de Neptuno, onde está o mais do que conhecido Plutão, acompanhado por pelo menos mais cem mil outros corpos celestes maiores do que 100 km, dos quais já descobrimos cerca de 4000.
Da mesma maneira que hoje os ortopedistas já são invariavelmente especialistas ou em joelhos, ou mãos, ou coluna, ou outra parte do corpo, na astronomia temos também as ciências planetárias e dentro delas mil e uma especialidades. Esta foi apenas a quinta conferência só no tema desde a primeira em 2003. Curiosamente, a última foi em Coimbra, em 2018.
É sabido que quando a Lua passa à frente do Sol temos um eclipse solar. É o mesmo que dizer que a Terra entra na sombra da Lua, algo que pode durar até três horas embora a fase de eclipse total do sol dure apenas de uns segundos a uns muito breves minutos.
Acontece que os corpos celestes do nosso sistema solar por vezes tapam a luz de uma estrela distante, a que chamamos ocultação. É preciso muita pontaria, mas acontece. E quando acontece a sombra desse corpo celeste apenas acerta numa pequena parte da Terra.
Por exemplo, em Coimbra poderíamos deixar de ver a estrela durante uns segundos, ou mesmo uma fração de segundo, mas abaixo de Leiria e acima de Viseu já não a veríamos piscar, porque já estávamos fora da sombra que o corpos celeste deixa cair sobre nós.
Se conhecermos a velocidade de um asteroide, basta-nos cronometrar o tempo durante o qual ele ocultou a estrela para conseguirmos saber o seu diâmetro. Já todos vimos nalgum filme alguém do outro lado da estrada com carros a passar à sua frente.
Depois passa um camião TIR e tapa a pessoa durante tanto tempo que ela pôde fugir sem vermos. Nunca pensamos nisso mas se soubermos a velocidade do camião, cronometrando o tempo durante o qual ele tapou a pessoa do outro lado poderíamos saber o tamanho do camião. (Não pensamos nisso porque esta cena nos filmes é usada para o suspense e não para andarmos a controlar o tráfego automóvel, coisa que daria um filme aborrecidíssimo.)
Quaoar, descoberto em 2002 e que muito contribuiu para a reclassificação de Plutão como planeta-anão, tem pouco mais de 1000 km de diâmetro, é bastante achatado e leva quase 289 anos a dar uma volta ao Sol.
Em 2005, descobriu-se que tinha um pequeno satélite natural à sua volta: o Weynot. No ano passado conseguiu-se perceber que tinha dois anéis. Dois finos anéis não parece grande coisa, mas a verdade é que ainda não conseguimos compreender bem como estão lá.
E nesta conferência, após anos de medições, uma equipa liderada por Fernandez-Velenzuela, da Universidade da Flórida Central, conseguiu não só ver a breve ocultação da luz de uma estrela por Quaoar mas também a muitíssimo breve ocultação provocada pela sua lua Weynot, de cerca de 150 km. Estamos a falar de uma coisa que parece no céu tão grande como a cabeça de um alfinete a mais de 130 milhões de quilómetros de nós. Ou seja, com esta técnica das ocultações estelares, poderíamos ver essa cabeça de alfinete a ocultar a luz de uma estrela. Números absolutamente impressionantes.