diario as beiras
opiniao

Opinião: Uma Coimbra competitiva, virada energicamente para as pessoas e para o futuro

01 de outubro às 11h28
0 comentário(s)

Coimbra experimentou no passado uma estratégia de ‘cidade de serviços’, que conduziu à estagnação, declínio e contínua perda de população, com degradação do seu parque habitacional e despovoamento das zonas históricas.

Essa mentalidade do passado continua a reprimir Coimbra, prejudicando o seu desenvolvimento. A ruína da antiga fábrica de curtumes, na Casa do Sal, um dos maus cartões de visita das entradas da cidade, é um ‘bom’ exemplo desse condicionamento.

Efetivamente, o PDM de Coimbra, com primeira edição em 1994 e primeira alteração em 2014, castra o progresso, impedindo a cidade de crescer em altura e colocando restritivos limites em algumas áreas, como no espaço da antiga fábrica de curtumes, elevando o nível de risco de quem pretenda aí investir. Podemos afirmar que o atual PDM de Coimbra é o principal responsável pela eternização do ‘cancro’ que é a ruína da Casa do Sal. Rever rapidamente o PDM é essencial para o desenvolvimento de Coimbra.

Um PDM que impede uma cidade de crescer em altura obriga-a a expandir-se na horizontalidade, invadindo a floresta, reduzindo as áreas verdes urbanas, inviabilizando transportes públicos mais eficientes, aumentando os tempos de deslocação e agravando os custos das estruturas subterrâneas. O PDM de Coimbra é claramente anti ecológico, anti cosmopolita e antidesenvolvimento. Por isso mesmo já o estamos a rever, um processo que exige alguns anos de trabalho.

Pretendemos um PDM ‘fora da caixa’, moderno, cosmopolita, que pense o futuro de modo sustentável e transformador, que se liberte das amarras do passado e que estimule a arquitetura contemporânea, num diálogo constante entre as existências e as novas leituras urbanistas. Naturalmente, o PDM deverá respeitar o património histórico e a zona de proteção da UNESCO.

Pela necessidade de alterar procedimentos e documentos fundamentais, pensar o desenvolvimento de Coimbra exige um horizonte que ultrapasse os curtos ciclos eleitorais, razão pela qual idealizámos e apresentámos uma estratégia para oito anos, pouco habitual na política, o tempo mínimo necessário para imprimir um novo rumo e um novo ritmo ao concelho e ultrapassar os constrangimentos provocados pelas mudanças e pelas obras que Coimbra precisa.

Coimbra, a cidade que os italianos consideram a Florença portuguesa, tem tudo o que é essencial para ser um dos concelhos do país com mais dinâmica social, cultural e económica. Basta aproveitar bem a sua intensa história de mais de 2000 anos, o facto de ter sido a primeira capital e a cidade fundacional de Portugal, estar localizada no centro do país, ter uma orografia belíssima e uma cultura e musicalidade únicas, um património rico e invejável, dispor que excelente qualidade de vida, acesso a ensino e saúde de elevadíssima competência, ser património da UNESCO, beneficiar de uma marca fortíssima, todos os anos receber dezenas de milhar de novos estudantes e produzir anualmente mais de 8500 diplomados, muitos dos quais verdadeiros talentos. Uma cidade com estes atributos deveria usá-los adequadamente para alavancar o desenvolvimento sustentável que todos almejam e ter mais orgulho em si própria.

A centralidade de Coimbra vai ser potencializada pela alta velocidade ferroviária, que agora Coimbra está a saber aproveitar e que vai atirar Coimbra completamente para fora da caixa! Ao contrário do limitado projeto de reduzida reabilitação da Estação Velha que estava a iniciar-se com o executivo camarário anterior, e que excluía a alta velocidade, o atual executivo soube colocar em cima da mesa, e já está em concurso, um ambicioso projeto de uma estação central intermodal de qualidade internacional e que inclui a alta velocidade. É uma revolução que, em conjunto com o projeto do MetroBus, o primeiro meio de transporte coletivo de primeiro nível em Coimbra, vai requalificar o meio urbano e melhorar extraordinariamente a mobilidade em Coimbra e para o mundo.

O país vai encolher, em tempo (a unidade que rege atualmente as nossas vidas é o tempo, não a distância), Coimbra vai ficar com um aeroporto 30 minutos a norte e outro 50 minutos a sul, as duas áreas metropolitanas, Porto e Lisboa, vão aproximar-se e Coimbra saberá aproveitar o facto de estar bem no meio, um fortíssimo fator de desenvolvimento multinível. A recente constituição da AGIT representa mais um passo concreto na metropolização da região de Coimbra e na atratividade dos transportes públicos.

Para aproveitar estas crescentes oportunidades, está a ser promovida a construção de torres de escritórios, o alargamento do iParque, a definição de mais áreas industriais, a atração de empresas nacionais e estrangeiras, a criação de emprego e a geração de novas e multifacetadas dinâmicas, o que já permitiu a Coimbra recomeçar a crescer em número de residentes, depois da perda contínua de população entre os anos 2000 e 2021. Um innovation district está igualmente no horizonte.

A Cultura é um eixo central do desenvolvimento, com vários eventos já emblemáticos, e também aqui Coimbra está num patamar superior, como atestou a primeira edição do Cu.Co: Encontro de Jornalismo Cultural de Coimbra, que consolidou a iniciativa como uma plataforma de diálogo entre quem produz jornalismo cultural e quem promove a criação artística de Coimbra, potenciando a paisagem e a comunicação cultural do concelho. Como referiu um órgão de comunicação nacional, há agora uma “atitude imparável” a transformar a cultura desta cidade. Grandes projetos na área da Cultura, como um verdadeiro museu de Coimbra e o novo Centro de Arquitetura Contemporânea de Coimbra, com a ‘reconstrução’ da Torre do Mosteiro de Santa Cruz, com 24 metros de altura, e uma escola de artes, vai contribuir para a transformação da cidade.

O projeto TUMO, o primeiro da península ibérica, no qual a Câmara investe um milhão de euros, é um projeto verdadeiramente fora da caixa e transformador da formação dos nossos jovens e uma aposta ganha, como atesta a satisfação dos jovens e das famílias, tendo permitido a reabilitação do icónico edifício dos CTT. Outros projetos educativos desafiadores estão a instalar-se, como o Brave Generation Academy. São verdadeiras apostas disruptivas no futuro.

O Turismo e a Hotelaria podem e devem crescer em Coimbra, com qualidade, sendo de sublinhar a inédita conferência “O turismo em Coimbra acontece”, organizada pela Câmara de Coimbra, que reuniu jovens alunos, empresários e agentes turísticos da cidade para debater o futuro do turismo em Coimbra, contando com intervenções de diversos especialistas. A taxa turística, paga pelos turistas, tem permitido um mais forte investimento no desenvolvimento do turismo local e regional. Há novos projetos no horizonte.

Os projetos financiados que Coimbra tem sabido ganhar recentemente são o caminho para incrementar o tão necessário investimento na cidade, como o projeto de turismo sustentável intitulado “COIMBRA ST LLM”, a única candidatura portuguesa a ser selecionada, com um financiamento de 4,9 milhões de euros, o projeto com financiamento comunitário de 5 milhões de euros que vai criar uma rede urbana intra-regional para atracção de empresas intensivas em conhecimento e novos residentes, entre Viseu, Leiria e Coimbra, que lidera a iniciativa, o projeto dos “Bairros Comerciais Digitais”, com o nome @Baixa Coimbra, um investimento no montante de 1,236 M€, o terceiro maior aprovado a nível nacional, o projeto CHARME – Digital Cultural Heritage Activity acRoss Multiple European Regions, cofinanciado pela União Europeia, sendo parceiros os municípios de Pavia (Itália – líder do projeto), Coimbra (Portugal), Iasi (Roménia), Turku (Finlândia) e a Comunidade Urbana de Grand Poitiers (França), com um financiamento de 1,3 milhões de euros, etc.

É fundamental apostar numa maior afirmação empresarial e internacional de Coimbra, o que está a ser conseguido, entre outras medidas, com o Coimbra Invest Summit e a criação da rede de embaixadores de Coimbra, uma iniciativa inédita e prometedora.

Foi possível conseguirem-se estes e outros resultados com a reestruturação da Câmara de Coimbra e a digitalização de todos os seus procedimentos, para o que foi essencial a colaboração de trabalhadores e chefias. A Estratégia Municipal de Inovação, em fase final de elaboração, e a espantosa melhoria da Transparência do município, confirmada pelos indicadores, são peças chave para o futuro

Para fazer mais e melhor, a Câmara de Coimbra precisará de aumentar a sua receita, pois a atual capacidade de investimento próprio é muito limitada, devido ao facto de, no passado, Coimbra ter prescindido do desenvolvimento económico e ter reduzido o IMI para o mínimo legal. Sem mais receita não será possível resolver todos os problemas estruturais do concelho; o executivo camarário está a trabalhar para que essa melhoria da receita se verifique de forma saudável, precisamente através do crescimento económico do concelho.

Teremos uma Coimbra competitiva, virada energicamente para as pessoas e para o futuro, um concelho de educação, saúde, ciência, tecnologia, criatividade, cultura, património, ambiente e rio Mondego, um concelho smart city / open city de pessoas felizes e com qualidade de vida. Estamos no caminho certo para a cidade CulTec que ambicionamos.

 

Autoria de:

José Manuel Silva

Deixe o seu Comentário

O seu email não vai ser publicado. Os requisitos obrigatórios estão identificados com (*).


opiniao