Opinião: Um rio debaixo dos pés

Morar em Bruxelas é, muitas vezes, esquecer que vivemos sobre um rio. O rio Senne, que atravessa toda a cidade, está praticamente todo enterrado desde o século XIX – corre debaixo das ruas, invisível para a maioria dos habitantes, lado a lado com os túneis rodoviários, o metro, etc. Sempre me intrigaram estas cidades construídas em cima de uma terra cheia de buracos, como um queijo, mas pelos vistos resulta e nada cai. Nada, excepto os Governos – A propósito, Bruxelas continua sem poder local há um ano.
Em Bruxelas, o rio está entubado sob a cidade por quase 9 dos 14 km que percorre dentro da capital. É visível apenas em poucos pontos – no sul e no norte. O Senne nasce em Naast, Valónia, e percorre cerca de 100 km até se juntar ao rio Dyle, antes de seguir para o mar do Norte.
Mas o canal de Bruxelas é o verdadeiro protagonista do cenário aquático da cidade. Visível e navegável em toda a sua extensão, é chamado muitas vezes de “canal do Senne” por causa da sua ligação íntima com o rio. Mas não são o mesmo: o canal ajuda a regular os excessos de água, recebe o escoamento das chuvas e, em momentos de cheias, serve de escape do rio.
E recentemente tivemos boas notícias em relação à qualidade da água bem turva e densa deste curso de água – após décadas a ser considerado um esgoto a céu aberto, o Senne parece ter voltado a respirar. Desde os anos 2000, duas grandes estações de tratamento transformaram a qualidade da água do rio e há pouco tempo 15 espécies de peixes foram encontradas apenas em Bruxelas.