Opinião: Para a história
Os movimentos sociais dos professores do centro do país viram consagrada, em outubro de 1976, a sua existência legal com a aprovação e publicação em Diário da República dos primeiros estatutos do Sindicato dos Professores da Zona Centro (SPZC). À época este era o único sindicato de professores que abrangia os distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu. Mais tarde surgiu o Sindicato dos Professores da Região Centro, mas isso são contas de outro rosário que um dia também irei contar.
Como a qualquer trabalhador, o 25 de abril de 1974 trouxe a liberdade sindical aos professores que se sentiam injustiçados pelo Estado Novo nos seus vencimentos e nas suas condições de trabalho; com regozijo perceberam que este momento das suas vidas iria dar-lhes aquilo que me permito referir como a legalização do desconforto.
É sabido que o descontentamento de quem trabalha relativamente às condições de exercício da profissão ou aos salários manifesta-se nas iniciativas que se mostrem mais adequadas ao momento. Daí não entender a afirmação do ministro da Educação considerando que os professoras em manifestação “perdem a aura”. Adiante.
Durante meses e meses dos anos de 74 e 75 assistimos a discussões muito vivas que serviram para que todos fossem ganhando progressiva consciência da importância de se constituir um sindicato solidário que abrangesse todos os membros da profissão docente.
Começou então a tentativa de controle ideológico do sindicato. Em Portugal, os partidos políticos mais influentes na época tentaram intervir e puxar para debaixo da sua manta este e outros sindicatos constituídos no resto do país. Mais do que um ensino de qualidade tratava-se de saber quem influenciaria politicamente as estruturas criadas. Partido Social Democrata, Partido Comunista, Movimento da Esquerda Socialista, Partido Socialista, afadigaram-se para chegarem ao controle da estrutura. NO SPZC foi a tendência social-democrata que venceu a pugna, perante o descontentamento das restantes. Esta é uma História que está por fazer e que talvez venha a lume um dia destes. Passada a fase de implantação da estrutura foi pouco o tempo de vida pacífica. A proposta de adesão à UGT que os vencedores social-democratas propunham não caiu bem aos restantes e começou a levedar, então, o processo de um outro sindicato que acabou por se designar Sindicato dos Professores da Região Centro que está bom e se recomenda.
Mesmo as grandes organizações sindicais da Europa se movimentaram e se puseram em bicos de pés. Quando os sindicatos de professores eram ainda bebés, isto é, ainda se discutia o que fazer da oportunidade que a democracia abria, estive em abril de 1975 em Varsóvia num congresso mundial de professores e vi “claramente visto” o interesse e a vontade das organizações internacionais de perceberem o que se passava em Portugal, seguramente para poderem disputar a carne do lombo que eram estas estruturas recém-formadas, ou nem isso, só em boa vontade e muita militância…
Confesso que não faço a mínima ideia do que foi investido nesta andança; sim, porque coisas com este volume e este interesse não se fazem apenas com os bonitos olhos de quem quer que seja. Sem ingenuidades, nunca seremos capazes de ter resposta para esta questão, tanto mais que os interessados eram de várias proveniências ideológicas.
Deixando de lado estes “pormenores” que não o serão assim tanto: os sindicatos de professores aí estão, serenos, procurando trazer para a ação as suas visões do que é um ensino de qualidade. E o que interessa é que tratem bem os assuntos que neles delegam os profissionais, particularmente numa altura em que o estado confuso que sai do ministério preocupa todos os que desejam o melhor para as gerações mais novas.
Ainda recentemente, na abertura solene das aulas na Universidade de Coimbra, o Reitor manifestou fundadas preocupações sobre o futuro do sistema educativo português. Está certo: o momento é mesmo de preocupação. Faço votos para que a realidade não lhe dê razão.


