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Opinião – “Obrigado, Mestre Varela Pècurto”

26 de abril às 12 h31
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Quando nasci no ano de 1969, o Mestre Varela Pècurto tinha já 44 anos de vida. Tinha assistido à segunda guerra mundial, vivido e presenciado o marcante período da Segunda República Portuguesa, a ascensão e consolidação do estado novo, o regime ditatorial de Oliveira Salazar, o início e o terrível desenrolar da guerra colonial.

É neste país e neste contexto que Varela Pècurto desperta e desenvolve a sua atividade fotográfica. No início dos anos 50, o homem nascido e criado no Alentejo, fixa residência em Coimbra, cidade onde vem a ser um dos elementos nucleares do Grupo Câmara – Grupo de Amadores de Fotografia e Cinema de Coimbra e onde cria a sociedade fotográfica “Ilda e Companhia Lda. e a Casa “Hilda”. É de salientar também o seu trabalho, ao longo de mais de duas décadas, como foto-repórter e operador de câmara correspondente da RTP – Rádio Televisão portuguesa, na região centro.

O fotógrafo que este ano celebra o seu centenário, participou em diversos salões fotográficos, expos nos cinco cantos do mundo, foi galardoado com inúmeros prémios, publicou fotografias em livros e em todo o tipo de suportes editoriais, criou um espólio fotográfico com mais de oito milhares de imagens, utilizando toda a espécie de suportes e técnicas, doou generosamente este espólio à Câmara Municipal de Coimbra e a outras autarquias.

Os meus primeiros contactos com Varela Pècurto foram na infância, nos anos setenta, precisamente na famosa Casa “Hilda”, onde os meus avós e pais me levavam com muita frequência. Lembro-me que olhava com admiração para aquele homem, para aquele espaço e equipamentos. Vibrava com a magia das fotografias, com os cheiros dos químicos laboratoriais, com a fantasia das máquinas fotográficas e os objetos em exposição.

No final dos anos oitenta e início dos anos 90, quando comecei a trabalhar no Centro de Estudos de Fotografia da AAC e na organização dos Encontros de Fotografia de Coimbra, agora já na condição de aprendiz do ofício, ia muitas vezes à Hilda pedir os seus conselhos, revelar filmes, imprimir provas fotográficas. A sua disponibilidade e amabilidade eram sempre incontornáveis. Ouvia-o com a maior atenção, fixava e respeitava tudo o que me dizia.

À medida que fui apresentando os meus primeiros trabalhos e realizando as minhas exposições fui-me apercebendo que o homem que em criança eu admirava estava agora presente, a cumprimentar-me a ver o meu trabalho, com a humildade da sua sabedoria e do seu elevado carácter.

Celebrar a vida e a obra de Varela Pècurto é celebrar uma parte inequívoca da história da fotografia. O legado que nos deixa com as suas fotografias naturalistas, de orientação picturalista, inscritas no movimento neo-realista, refletem um país, uma cidade, uma sociedade, que já não existe e que é um fascinante tema de estudo e investigação.

Obrigado, Mestre Varela Pècurto.

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