Opinião: O carnaval da política portuguesa

Nesta semana de Carnaval, dei-me a pensar no título que devia escolher para o texto desta semana e deixei correr a pena ao sabor da primeira sugestão: como num cortejo de Carnaval!…
Com efeito, em vez da abordagem e discussão dos problemas sérios e graves que neste momento o Mundo atravessa, as declarações de “políticos” e “comentadores” (repare-se que entre-aspas) que por estes dias nos entram em casa mais parecem diversões em certas mesas-redondas (ou quadradas…) que se vão repetindo como num Cortejo de Carnaval!…
E os “carros alegóricos desse Carnaval” lá vão passando: Depois de, há cerca de quinze dias, um Partido (Chega) ter apresentado uma Moção de Censura, rejeitada por todos os outros, um outro Partido (PCP) avança agora com outra Moção de Censura praticamente semelhante à que havia rejeitado, mas começando pelas declarações cómicas do seu Secretário Geral que cito: “tenho a certeza absoluta que este Governo vai cair. Pode não ser hoje, mas vai cair”!… e, convicto de que era tudo uma questão de tempo, vai chamando oportunistas aos socialistas se não votarem a favor. Estes, entram no Cortejo, anunciando que vão requerer uma Comissão Parlamentar de Inquérito!… Entretanto, cozinha-se um caldo com mais partidos para votar a favor da moção de censura e, para o caldo ferver mais depressa, o Governo avança com uma Moção de Confiança!…
A Assembleia da República, no espaço de quinze dias, debate assim mais do mesmo, não os problemas de urgente resolução tais como os da saúde, da educação, da justiça, etc., mas gastando o tempo com assuntos que a maioria dos portugueses não percebeu nem consegue perceber acerca do que é ou não verdade, do que um Primeiro Ministro português pode ou não pode fazer.
Entre moções de censura, de confiança, comissões de inquérito, comentadores do julgamento em praça pública, dizendo hoje que sim e amanhã que não, jogos de mentiras e verdades sobre patrimónios e rendimentos, tudo misturado e arrastado por meandros e labirintos sem haver um escrutínio sério de nada, só serve para desgastar a imagem e aumentar o descrédito dos políticos portugueses.
Eu sei que a democracia exige transparência e escrutínio sério e rigoroso. Mas não podemos ignorar os trampolins mágicos tantas vezes utilizados sobre o tema transparência. Sobretudo porque não servem nem devem servir para arrastar um “tempo político”, seja de que partido for, para “personalizar ataques a pessoas”, sejam quais forem, e muito menos as suas respectivas famílias. Todos os episódios que se estão a desenrolar foram mal nascidos, também mal geridos e, daí, o estarmos a assistir a verdadeiras chicanas políticas.
No fim disto, e se rejeitada a moção de confiança, como parece ser a hipótese mais realista, será a crise política … talvez a maior crise política depois da “Primeira República” … num tempo ensombrado pela imagem de Trump e seus colaboradores, numa Europa à procura de si mesma, num Mundo que parece em total descontrolo!…
E a quem vai aproveitar isso tudo?!
Há uma coisa que dou como certa: neste momento, para uma nomeação política talvez sejam precisas as viagens interplanetárias que Musk preconizou para encontrar seres de outros planetas. Ou então alguém que viva nos bancos da rua (um sem-abrigo, sem património e sem rendimentos). E, se continuarmos assim, daqui a uma dezena de anos ver-se-á o Mundo a ser governado e gerido por incompetentes, com ausência de seriedade e princípios éticos, sem moral ou então… geridos pela inteligência artificial. Estamos mesmo num cortejo de Carnaval muito perigoso!… Estamos a cair no máximo do caricato!…
Transformando o provérbio português, eu direi também: “A falta de bom-senso é o maior vício de todos os vícios”.