Opinião: Mãe
Ao sétimo dia lembro minha Mãe, pela compreensão e paciência com que me educou e o cuidado como me formou para a vida.
Não posso deixar de recordar que quando aceitei, em 2003, o lugar de Diretor do Departamento de Ambiente e Qualidade de Vida da Câmara Municipal de Coimbra, fez questão de passear comigo pela urbe, dando-me preciosas lições sobre os jardins e espaços verdes de Coimbra, sua história e estórias. Falou-me sobre as árvores, as plantas e as flores que tradicionalmente se plantavam em Coimbra, não fosse ela licenciada, em 1951, em Ciências Biológicas pela Universidade de Coimbra.
Lembro-me bem de me ter ensinado o significado, em Coimbra, do Tulipeiro-da-Virgínia (Liriodendron Tulipifera), designada pelos estudantes universitários por “árvore-do-ponto”, pois quando se encontra florida significa que os exames do segundo semestre estão para breve. Foi em homenagem a este ensinamento e ao seu significado que tive a oportunidade de plantar várias destas árvores, pela Cidade de Coimbra.
Lembro também que, nessa altura, me aconselhou a ler o “Diário” de Miguel Torga com atenção redobrada aos textos e poemas que abordam a relação do homem com a natureza.
Assim e à guisa de uma pequena homenagem partilho o poema MÃE, de Miguel Torga, do volume IV do Diário, escrito a 1 de junho de 1948, em São Martinho de Anta.
Mãe
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti – não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto – sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!