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Opinião: Lava descoberta em Vénus!

26 de setembro às 13h55
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Há coisa de um ano referi aqui a descoberta de vulcanismo ativo no planeta Vénus. Como é normal em ciência, é necessária uma confirmação para que todos fiquemos de facto convencidos de que aquilo que se descobriu foi de facto um vulcão ativo.

É extremamente difícil estudar a superfície do planeta Vénus porque este planeta está completamente coberto por uma espessa camada de nuvens. E, embora tenha sido apelidado de planeta irmão da Terra, pois tem quase o mesmo tamanho e a mesma massa que o nosso planeta, tudo se esfumou com a visita das sonda espaciais soviéticas Venera, nos anos 60.

Vénus tem uma pressão atmosférica à superfície de 95 atmosferas, o que é mais ou menos equivalente à pressão que sentiríamos se estivéssemos a 950 metros de profundidade no mar. Além do mais as temperaturas à superfície rondam os 460° C.

Vénus tem escoamentos de lava solidificados há mais de dois milhões de anos com centenas de quilómetros. Mas ainda estava por descobrir um escoamento recente, ativo, na Niobe Planitia.

E foi isso que os italianos Davide Sulcanese, Giuseppe Mitri e Marco Mastrogiuseppe conseguiram, publicando a sua descoberta na prestigiada revista Nature Astronomy. E conseguiram-no reanalizando dados de arquivo obtidos pela sonda Magalhães entre 1990 e 1992, a sonda que mapeou 98% do planeta Vénus com radar.

Vénus está mais próximo da Terra do que Marte, mas é extremamente inóspito. Sabemos que tem o núcleo de cerca de 3000 km de raio composto essencialmente por ferro e algum níquel. O núcleo da Terra é semelhante. Mas, uma grande parte do núcleo da Terra está no estado líquido, movendo-se e assim criando o nosso campo magnético tão fundamental para nos proteger de muita da radiação que nos chega do sol. Já o núcleo de Vénus ou está todo no estado sólido ou move-se muito pouco fazendo com que Vénus não tenha um campo magnético como o nosso.

Apesar de tudo em Vénus parecer um inferno, a 55 km de altitude, nas suas nuvens, já temos temperaturas de apenas 25° C e uma pressão atmosférica igual a metade da nossa, que é a pressão atmosférica que sentimos numa montanha a 5500 m de altitude. Ou seja, parece que bastariam uma garrafas de ar comprimido e uma proteção para a radiação para podermos ter um astronauta a fazer um passeio por ali.

E, apesar da falta de um campo magnético o para proteger de muita da radiação nociva para vida tal como a conhecemos, desde 2020 tem havido um intenso debate sobre a descoberta, ou não, de fosfina nas nuvens de Vénus. No nosso planeta Terra, a fosfina é tóxica para os humanos mas é produzida por algumas bactérias que vivem em ambientes com pouco oxigénio. A sua possível existência em Vénus levanta enormes esperanças de se encontrar algum tipo de vida nesse planeta. E ter vulcanismo ativo com escoamentos de lava torna tudo muito mais interessante.

Uma vez mais, aguardamos impacientemente o lançamento das missões espaciais DAVINCI e VERITAS, em 2029 e 2031, respetivamente, a agência espacial norte-americana NASA, e o lançamento da missão EnVision, em 2031, da agência espacial europeia ESA, da qual Portugal faz parte.

Autoria de:

Nuno Peixinho

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