Opinião: “Invasão da Ucrânia pela Rússia marca 2022”
A invasão da Ucrânia pela Rússia (não lhe chamo uma guerra porque se trata, de facto, de uma invasão), veio marcar, da pior forma possível, o ano de 2022. Para além da devastação de um país soberano, para além de 40 milhões de Ucranianos com as suas vidas suspensas (infelizmente, muitas delas perdidas), ela veio trazer mudanças tão profundas à vida das pessoas em geral e ao cenário internacional, que muitos falam já de uma nova ordem mundial. Na verdade, não são antecipáveis o desfecho deste cenário e muito menos os impactos económicos e sociais que terá. Do mesmo modo, as atividades empresariais estão a sofrer um abalo ímpar e a enfrentar desafios novos, exigindo das empresas o melhor das suas competências e da sua agilidade.
Ainda assim, há alguns aspetos interessantes que merecem ser destacados e que se podem transformar em oportunidades. Desde logo, na sequência da crise nas cadeias de investimento que vem desde a pandemia, os impactos desta invasão nos preços das energias e das matérias-primas criaram nos mercados uma expectativa geral e um clima de aceitação para uma subida geral de preços. Esta é uma excelente oportunidade para muitas empresas e alguns sectores para promoverem uma atualização de preços que há muito tempo não conseguiam. E este clima de aceitação vai para além do consumidor final e estende-se ao longo das cadeias de abastecimento. Claro que estamos já a assistir a um cenário de inflação generalizada, que desperta inúmeras preocupações, mas que, também, faz surgir algumas oportunidades e pode gerar algum dinamismo.
Em paralelo, os sectores mais dependentes das energias, estão a sofrer já um impacto substancial. Ainda assim, tratando-se de um cenário que, à escala global, está a apanhar todas as empresas por igual, isto vai criar a oportunidade para as empresas melhorarem o seu desempenho energético e ambiental. Digamos que as empresas vão ter um tempo para redesenharem as suas estratégias tecnológicas e energéticas, de forma a fazer face à necessidade de cumprir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da agenda 2030.
Entretanto, o mundo assistirá a um redesenho das cadeias logísticas, que diminua as dependências dos grandes espaços económicos como a Europa e Estados Unidos, de países e regiões menos estáveis ou menos previsíveis. Este desígnio já estava em curso, no que respeita à dependência da China e do Oriente e agora, continuará, com a diversificação das fontes de abastecimento de energias. Também aqui surgem novas e importantes oportunidades de negócio e de desenvolvimento, particularmente para países como Portugal que ainda estão na transição de mercados de subcontratação para economias mais maduras.
Não esqueçamos ainda que a Europa, nos próximos anos, terá que adotar políticas mais expansionistas para ajudar a evitar o colapso das suas economias e para assegurar o esforça armamentista de que se fala. Em paralelo, a Europa terá que assegurar uma ajuda substancial à recuperação da Ucrânia, e também por aqui vamos assistir a um dinamismo importante, que poderá resultar de uma obra tão gigantesca como a reconstrução daquele enorme país, parcialmente em ruínas.
As empresas portuguesas não são, na verdade, conhecidas pela sua capacidade de antecipação e atuação estratégicas. Mas, a sua agilidade é reconhecida assim como a sua capacidade para fazer face a situações disruptivas. Parece por isso que este novo quadro oferece um conjunto de riscos importantes, mas é muito mais interessante olhar para todas as oportunidades que este cenário pode trazer. Na verdade, o grande desígnio do momento é parar esta invasão absurda e hedionda e devolver a paz e a esperança ao povo ucraniano. A economia sobreviverá e saberá encontrar o caminho da prosperidade.
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