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Opinião: História e memória

13 de novembro às 12h07
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Dois mil anos depois da chegada das legiões romanas à zona hoje designada por Terras de Sicó, algumas dezenas de membros da AAEC (Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra) foram a Condeixa visitar o Museu PO.RO.S – Portugal Romano em Sicó, que faz a reconstituição dessa época. Um Museu muito interessante, interactivo, que conjuga novas tecnologias com achados arqueológicos.

Recebidos na Câmara Municipal de Condeixa pelo respectivo Presidente, Nuno Moita (também antigo estudante de Coimbra), fomos guiados, de forma gentil e eficiente, pela Coordenadora dos Equipamentos Museológicos daquela autarquia, Ana Valadas, numa animada incursão pela História.

Não apenas a do Império Romano, mas também a História recente, que merece registo na nossa memória.
De facto, estando em Condeixa, a AAEC quis prestar homenagem a dois ilustres antigos alunos da Universidade de Coimbra dali naturais: Fernando Namora ( 1919-1989 ) e Deniz Jacinto
( 1915-1998 ).

Assim, visitámos a Casa-Museu Fernando Namora, que alberga um interessante e bem cuidado conjunto de objectos ligados à vida e obra deste médico, formado na Universidade de Coimbra. Ali foi feita uma breve evocação de Namora, considerado como um dos mais reputados escritores portugueses contemporâneos – chegando mesmo a ser proposto para o Prémio Nobel da Literatura em 1981. Na Casa-Museu, para além de uma variada biblioteca, manuscritos e objectos pessoais, podem apreciar-se belas pinturas da autoria de Namora – já que se distinguiu também como artista plástico de muito mérito.

Seguimos depois para a Casa dos Arcos, onde está uma curiosa exposição intitulada “Auto da Liberdade – Deniz Jacinto, o pequeno gigante” (que pode ser visitada até 5 de Janeiro próximo).

Figura talvez menos conhecida do que Namora pelas gerações mais recentes, Deniz Jacinto foi destacado militante da Oposição ao regime de Salazar, o que lhe valeu 4 anos de prisão e proibição de leccionar em escolas públicas. Mas foi também de enorme importância na Academia de Coimbra, tendo sido Presidente da Associação Académica de Coimbra e do Orfeon Académico. Foi ainda co-fundador, com Paulo Quintela, do TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra).

Deniz Jacinto distinguiu-se, desde logo, como actor, mas também como encenador, teatrólogo, crítico, tradutor e até como jornalista (tendo sido Director do Diário de Coimbra, onde publicou, em 1945, um texto que motivou, por parte do regime então vigente, a suspensão daquele jornal por um ano).

Para esta singela homenagem, veio do Porto um outro antigo estudante de Coimbra, o jornalista Júlio Roldão, que foi activo elemento do TEUC e que privou de perto com o encenador.

No simbólico cenário da exposição que documenta a luta de Deniz Jacinto pela liberdade, Júlio Roldão classificou-o como “um humanista que preferia as pontes aos muros e que dava força à geração dos 20 anos”. E afirmou, mais adiante:
“Eu e a minha geração, que foi aquela que apanhou o 25 de Abril com 20 anos, devemos-lhe esse seu empenho, tão natural, em querer olhar sempre mais para o futuro do que para o passado”.

A verdade é que, para construir o futuro sobre bases sólidas, importa visitar o passado e os que nele, de forma corajosa, ousaram enfrentar poderes e lutar pelos seus ideais.

Isso mesmo se vai fazer já no próximo dia 23, num jantar de gala no Casino Estoril, comemorativo dos 104 anos da “Tomada da Bastilha”, promovido pela Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra em Lisboa. Evocando a memória das quatro dezenas de estudantes que em 1920 protagonizaram esse momento marcante da Academia coimbrã, vai também ser prestada justa homenagem a Fátima Lencastre, que há 32 preside à AAEC em Lisboa.

Os interessados em participar podem ainda inscrever-se hoje, através dos telefones 218 494 197 ou 964 167 581.

Autoria de:

Jorge Castilho

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