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Opinião: Go digital, go green?

19 de setembro às 10h02
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Atravessamos uma época de mudança nesta chamada Transição gémea – Verde e Digital – com um impacto crescente nas nossas vidas e, seguramente, na das futuras gerações. A transição verde – focada na descarbonização de todos os setores da economia, no uso de energias renováveis, na eficiência energética, na economia circular e na promoção de práticas sustentáveis para alcançar uma economia de baixo carbono e minimizar o impacto ambiental das atividades humanas. A transição Digital – na digitalização de processos, produtos e serviços em todos os setores da economia, utilizando tecnologias como a inteligência artificial (IA), a internet das coisas (IoT), o blockchain, a computação em nuvem, 5G, etc.

Se as tecnologias digitais podem apoiar a transição verde de diferentes formas, a verdade é que, por vezes, estas soluções parecem antagónicas, produzindo até efeitos adversos na outra transição gémea.

As tecnologias digitais podem tornar-se facilitadoras da transição verde e é possível ligar as transições com soluções green-digital. Por outro lado, o rápido crescimento da utilização de tecnologias digitais trouxe acréscimos muito significativos no consumo de energia.

Estima-se, por exemplo, que uma pesquisa no ChatGPT possa consumir até quase dez vezes mais energia do que uma pesquisa tradicional do Google ( 2,9 watts-hora por pedido no ChatGPT para 0,3 watt-hora numa consulta tradicional no Google). Que irá crescer muito com as necessidades sem precedentes de computação intensiva necessárias à geração de imagens, áudio e vídeo nestes sistemas.

Antevê-se assim um crescimento muito significativo dos centros de dados em todo o mundo. Entre 2017 e 2021, a energia elétrica utilizada pela Meta, Amazon, Microsoft e Google mais do que duplicou e a Agência Internacional de Energia (IEA) projetou recentemente que a procura global de eletricidade nestes centros de dados irá ainda mais do que duplicar até 2026, dado o crescimento de carga nos centros de dados com a utilização de modelos de IA generativos. Nos EUA, estima-se que estes centros poderão vir a consumir cerca de 9% da geração de eletricidade anual até 2030, contra 4% estimados atualmente (EPRI). E com 5,3 mil milhões de utilizadores globais da Internet, a adoção generalizada destas ferramentas poderá levar a uma mudança radical nos requisitos de energia mundiais.

Naturalmente, a procura de maior processamento tem sido compensada por ganhos de eficiência nestes centros e parte desta energia elétrica pode ser gerada através de fontes renováveis (solar fotovoltaico, eólicas, etc.), podendo também estas empresas promover tecnologias de captura e remoção de carbono.

A Morgan Stanley afirma que as emissões associadas aos centros de dados será três vezes mais do que o previsto se a IA generativa não tivesse surgido. Este pode considerar-se um passo atrás nos esforços das tecnológicas para reduzir a pegada de carbono.

Um equilíbrio nem sempre fácil – a digitalização a ajudar a criar soluções inovadoras para reduzir as emissões de carbono enquanto, por outro lado, contribui em parte para o seu crescimento. Mas é também por isso que esta transição se tem de manter gémea e ser a pedra angular de um futuro que se quer mais sustentável.

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