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Opinião: Fora d’horas

10 de fevereiro às 10h19
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O mundo dos negócios é, por motivos óbvios, um mundo de constantes desafios. É-o em particular se o objectivo dos negócios a que nos dedicamos for o de crescer continuadamente. Naturalmente que para todos os negócios existirá um “tecto” máximo, mas no caminho até o atingir, vamos inevitavelmente ter que passar pelas chamadas “dores de crescimento”.

É assim quando temos que arriscar financiar um determinado investimento, quando nos lançamos na procura de mercados desconhecidos, quando há necessidade de aumentar instalações, quando as equipas de trabalho têm que ser reforçadas e em tantas outras situações. Neste conjunto de difíceis decisões, por mais assertivos que sejamos, existe sempre a dúvida sobre o grau de sucesso que vamos atingir com o implementar de uma determinada medida.

Mas há mais que isso. Há aquelas em que estamos certos que as temos que tomar, que é um óptimo motivo aquele que nos leva a ter que as tomar, mas sabemos que nessas decisões existirá sempre um incómodo inelutável para os que connosco trabalham. O que é que quero dizer com isto? Já explico.

Uma empresa que faça o seu caminho de forma estruturada, assente em princípios de elevados padrões de qualidade quer nos produtos por si comercializados, quer pelos serviços por si prestados aos seus clientes, tendencialmente verá a sua actividade crescer. Quando nestes serviços está incluída a produção/fabrico, em condições normais, o acréscimo de necessidades produtivas terá que ser satisfeito implementando maior capacidade produtiva. Evidentemente que a forma de o conseguir poderá passar por um conjunto de diversos factores, como a industrialização e mecanização de processos para ganhos de escala, a optimização de processos, a redução de timings não produtivos, o aumentar das equipas de trabalho, o aumento da sua capacitação ou até mesmo a subcontratação. Mas, quando estes pontos estão – pela visão de quem gere – devidamente aprimorados, a subcontratação, pela tecnicidade da tipologia de produtos fabricados, não é uma opção. Por essa mesma tecnicidade, os processos não podem ser mais “concentrados” e a solução inevitável passa pelo alargamento dos horários trabalhados: o trabalho por turnos torna-se uma inevitabilidade.

Para uma estrutura que nasce assente nessa necessidade, todo o seu quadro de colaboradores é admitido nesse pressuposto. Quando essa adaptação é no processo em curso, o sucesso da sua implementação está impreterivelmente no envolvimento e na boa vontade de todos. Para os colaboradores que exerçam as suas funções por turnos existem, necessariamente, alguns constrangimentos. A conciliação com a vida pessoal será provavelmente o maior. Para as empresas, não serão de descartar pontos como os problemas de retenção de talento, a resistência dos colaboradores para os horários mais incómodos, a complexidade de gerir horários e equipas de trabalho, os custos salariais adicionais, os riscos de segurança e até a quebra de produtividade por hora trabalhada.

Embora os dados disponíveis não sejam muitos, estima-se que existem actualmente mais de 800 000 pessoas a trabalhar por turnos e que este número tenha duplicado em relação a 2009. Estima-se também que mais de 2 milhões de pessoas trabalhem ao sábado e que quase 25% da população empregada trabalhe além das oito horas da noite.

Para uma economia com uma componente que assenta ainda de forma considerável na produção, esta é uma consequência natural. E o que é que importa fazer? Decidir e minimizar de parte a parte, tanto quanto possível, os pontos menos positivos deste processo, reconhecendo e fortalecendo o que de positivo pode existir. Haverá certamente casos em que horários mais diurnos ou mais nocturnos possam ser mais favoráveis a alguns colaboradores. Haverá certamente pessoas para as quais o rendimento adicional será positivo. Haverá necessariamente que tentar que os horários sejam os menos incómodos possível. Haverá que pensar e implementar regalias que possam compensar o mais possível todos os visados.

Uma certeza há, porém, que importa que ninguém esqueça: restringir o crescimento será meio caminho andado para a estagnação. Estagnação é, por sua vez, meio caminho andado para o declínio. Se tal acontecer, perdem todos. No sentido contrário, havendo sabedoria e seriedade, julgo haver um caminho onde, apesar das dificuldades, todos podem ganhar.

*Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

Autoria de:

Christophe Coimbra

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