Opinião: Estudar turismo e educar para o turismo
Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Embora, em relação a um estudante de Turismo, alguém que está a aprender os conceitos e as práticas relacionadas com este setor, as ideias sejam, naturalmente, muito próximas, pois são desenvolvidos os respetivos conhecimentos e competências ao mesmo tempo que se apr(e)ende também os princípios e os valores que nos devem orientar, hoje mais do que nunca, perante esta atividade económica e social, quer como profissionais ativos do setor, quer como cidadãos em geral. Um estudante de Turismo hoje será também, desejavelmente, um educador de Turismo mais tarde.
Na vertente do ensino, e para o que importa problematizar neste texto, considero os diversos e diferentes níveis escolares e académicos, tipologias e cursos, sendo que aqui se incluem também as áreas da hotelaria e da restauração, subsetores do grande setor chapéu que é o Turismo. Com as escolas secundárias e as profissionais, com os centros de formação e outras estruturas formativas, com as universidades e os politécnicos, estudar Turismo tornou-se muito mais acessível do que há algumas décadas, quando a oferta de educação e formação era bem mais escassa. Temos hoje instalada em Portugal uma rede de estabelecimentos de qualidade, profissionais formados com muita competência, produção científica assinalável e start-ups e negócios de base tecnológica com soluções inovadoras e de muito valor para as empresas turísticas. Por isso, somos também já um excelente destino para estudar turismo, com muitos daqueles estabelecimentos a receberem estudantes de todo o mundo, necessidade de internacionalização que também temos no país dado o “inverno demográfico” que atravessamos.
O mercado turístico tem conhecido um crescimento exponencial, que importa acompanhar com a capacitação eficaz de profissionais – em todas as profissões do setor, sejam operacionais, chefias intermédias, gestores ou administradores. Mercado que necessita, muito(!), de pessoal especializado, para uma resposta de qualidade à procura que o nosso país vem conhecendo por parte de turistas (internos e externos), o que faz com que os índices de empregabilidade no setor sejam dos mais altos em toda a economia, com particular incidência nas áreas da hotelaria e da restauração, da animação turística (património, natureza, aventura) e das agências de viagens e transportes (aqui com alguma perda recente da atividade para as aplicações digitais).
Tudo isto nos traz àquilo que são os atuais e centrais pressupostos da atividade turística, numa perspetiva de futuro também, que são os conceitos e as práticas ligados à Sustentabilidade, nas suas vertentes social, ambiental e económica, que as empresas do setor devem abraçar, têm de abraçar(!), de forma a que não se coloque em causa a sua própria sobrevivência, o bem-estar das pessoas e a qualidade do ambiente que nos rodeia e acolhe.
É aqui que entra a vertente da Educação para o Turismo, pois sendo este um setor tão transversal e que interseta tantas outras atividades da vida em sociedade, é um bom exemplo para mostrar os melhores caminhos para as melhores (boas) práticas de Sustentabilidade. Por isso, importa chegar aos cidadãos em geral – todos potenciais agentes de Turismo quando contactam com turistas que visitam o seu território, a sua área de residência. E que melhor forma de fazer isto senão começar, desde logo, pelos mais novos, como os alunos do ensino básico, por exemplo, através da metodologia de trabalho de projeto e interdisciplinar? Mostrando-lhes os princípios, os valores e a ética que atualmente devem presidir à atividade turística. Fazer com que os mais novos olhem para o seu meio envolvente, para o seu território, (re)descubram a sua identidade cultural, seja pela história, o património, a natureza, a gastronomia, a música, o folclore, as heranças materiais e imateriais da sua região. Juntando todas as regiões temos um país, juntando todas as gerações, temos um povo. Um povo que ser quer educado, informado, crítico, atuante e gerador de mudança e desenvolvimento. O Turismo serve também para isto, para Educar.