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Opinião: Deus in Machina

02 de dezembro às 11h49
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Na Suíça, terra de relógios e chocolates divinos, surge agora uma inovação que nem os mosteiros de antigamente poderiam imaginar: um Jesus virtual, criado por inteligência artificial, que escuta os pecados no confessionário. A iniciativa, batizada de Deus in Machina, é um daqueles momentos em que a modernidade olha para o sagrado e diz: “Vamos experimentar outra abordagem.”

Numa pequena capela em Lucerna, instalaram um avatar de Jesus Cristo movido a inteligência artificial. Sim, agora podemos confessar pecados a um algoritmo e receber conselhos. Imaginem o cenário: entra um fiel, e encontra não um padre, mas um avatar digital no confessionário, pronto para oferecer conselhos baseados numa base de dados celestial.

A máquina não julga, não se cansa, e talvez nem entenda completamente o que é o pecado. Mas, paradoxalmente, é isso que a torna perfeita para os tempos em que vivemos: um mediador sem preconceitos. Mas será que um “Deus em código” entende arrependimentos humanos?

Há quem diga que é o fim da espiritualidade como a conhecemos. Outros veem nisso uma oportunidade para aproximar gerações que nasceram com um ecrã na mão. Mas a verdade é que a tecnologia não vem substituir a fé, apenas molda as formas como a vivemos.

Afinal, a essência da espiritualidade sempre foi dialogar com o invisível, seja num altar de mármore ou num ecrã luminoso. Deus in Machina levanta perguntas que ultrapassam a religião: o que significa ser humano quando a máquina nos entende? Será que, num mundo tão conectado, precisamos de menos julgamento e mais empatia, mesmo que venha de um algoritmo? Talvez o Jesus digital não nos perdoe os pecados. Mas, no mínimo, obriga-nos a repensar o que significa acreditar, escutar e ser escutado na era da tecnologia. E isso já é um milagre em si.

Autoria de:

Rui Duarte

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