Opinião: De férias precisamos todos

Eis que a meio de Julho finalmente chegou o Verão ao nosso País. Com os dias quentes e mais solarengos é absolutamente compreensível que a nossa cabeça fique cada vez mais a cogitar com as férias.
Aquelas merecidas férias que nos permitirão sair da rotina acelerada das nossas actividades profissionais e finalmente descansar física e mentalmente. E se porventura as férias não forem marcadas por descanso físico e mental, serão pelo menos de um cansaço diferente, aquele cansaço que deriva das coisas que muito gostamos de fazer nos nossos tempos livres.
Poderei até acordar mais cedo para correr uma meia maratona antes de ir fazer uma “maratona” de praia e ainda deitar-me de madrugada por conta de um jantar bem regado na companhia de bons amigos. Podem até ser dias longos e providos de muitos afazeres, mas como são cansativos de coisas que tão raramente fazemos, é um cansativo que não cansa. É um cansativo que recupera, tal qual a poção mágica do Astérix.
Mas se assim o é com as pessoas, como é que é com as empresas? A meu ver, é-o de igual forma. Pelo facto do direito a férias derivar da lei e ser um direito fundamental e inalienável dos trabalhadores, poder-se-á ser tentado a pensar que para as empresas isto é apenas mais um problema, mais uma despesa. Nada de mais errado. Para se perceber isso mesmo, basta que se faça o mais elementar dos raciocínios. O que mais são as empresas que não as pessoas que as constituem? Do estagiário ao CEO todos necessitam de férias, certo? Então, não há dúvida que também as organizações, em toda a sua dimensão, precisam de férias. Num mercado de trabalho que muito se alterou ao longo das últimas décadas, onde as novas tecnologias vieram acelerar de forma evidente a velocidade a que os negócios se processam e onde o que demorava dias, semanas ou meses, se processa agora em horas, minutos ou segundos, é natural que também o desgaste dos recursos humanos se tenha acelerado em proporções semelhantes.
Em Portugal, o esquema remuneratório vigente implica que uma entidade pague 14 salários a cada colaborador e que este trabalhe apenas 11 meses. Discordo, por princípio, do pagamento dos 14 salários. Sempre considerei mais adequado e economicamente mais justo e equilibrado que os valores agora auferidos através dos 14 salários fossem divididos pelos “apenas” 12 meses do ano. Quanto aos 11 meses de trabalho, concordo na plenitude com o que está definido na lei. Reconhecendo que o gozo de férias é um garante de mentes sãs ao serviço das empresas, este mês de ausência ao trabalho, seja ele gozado de forma contínua ou alternada, é de fulcral importância para as pessoas e para as empresas. Afirmo concordar na plenitude, não apenas pelo direito consagrado, mas também pela dimensão do período que está actualmente definido na lei.
Os 22 dias úteis, possíveis de serem estendidos até 25 dias, em função do absentismo praticado no ano anterior, parece-me justo. Parece-me que se enquadram bem entre o mínimo necessário e o máximo possível.
Hoje, as férias fazem parte do calendário natural de uma empresa. Por paragem total, parcial ou em esquema de rotação dos seus colaboradores, as empresas também descansam.
Actualmente a grande maioria dos empresários reconhecerá certamente que indicadores como o aumento da produtividade, o aumento da criatividade, o aumento da motivação, a redução de conflitos, a capacidade de reter talento, a manutenção dos níveis de satisfação ou a redução de doenças incapacitantes são uma preocupação para quem gere, e que importa mantê-los em níveis adequados. Em todos os que enumerei, o descanso que as férias proporciona, seja ele mais físico ou mais mental, é peça chave.
Porque queremos todos que as nossas empresas sejam mais produtivas, mas criativas, mas capacitadas, gozemos todos de umas recuperadoras férias.
Boas férias a todos os que agora as gozam. Bom trabalho a todos os que já as gozaram ou que ainda aguardam por elas.
*Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.