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Opinião: De Animalia Ursidae

10 de janeiro às 10h20
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Numa demonstração de magna sciencia, a aula que hoje trago através deste periódico Beirão é uma de Zoologia. Contrariamente ao ensinado nos programas naturistas da televisão, existe em Coimbra uma raça de Urso que prolifera durante o inverno. Não se trata de uma referência a um plantígrado político -pois esses são os Camelos – mas sim, à antiga raça autóctone dos Ursidae Academicus que, com a floração da Árvore do Ponto, durante o período praxístico do MuitoEstudáceo, saem das suas tocas para a preleção avaliativa do semestre. Como bom lente que aspiro a ser, e para não pensarem que se trata duma dissertação destilada da cachimónia do aborrecimento, recorro a um especialista da matéria, o “Dr.” António de Souza Pinto, que em 1908 publica este contributo para a gíria Académica, que aqui partilho, na sua grafia original:
“O urso é em geral um estudante bon enfant, esperto cumprindo religiosamente os seus deveres e seguindo quasi á risca aquellas famosas máximas que…(os Veteranos)…com largo tirocinio do officio na Lusa Athenas dava a um caloiro: andar muito tezo e circumspecto, em marcha de procissão (…);não deixar socegar a servente, já com livros para fóra, já com livros para dentro; (…) Não entrar em bilhares, pois é incompativel affectar de sabio, e por consequencia de estudioso, e gastar o tempo em semelhantes ninharias: não entrar em botequins, porque o verdadeiro café dos sábios é a leitura dos seus livros (…) Não entrar em rifas de trastes que sirvam só para adorno, salvo um relogio, um jogo de livros e um annel, porque o primeiro marca as horas de estudo, o outro é a insignia do sabio e os livros as suas armas; (…) Na aula está immovel, n’um silencio compenetrado de santuário, olhos fitos na cathedra, porque para elle o lente é alguma cousa de superior e intangivel que como os heroes da antiguidade tem pontos de contacto com deuses,
Chamado á lição, levanta-se com gravidade, senta-se com pose (o verdadeiro urso tem muita pose), descalças as luvas, sacca da pasta o expositor predilecto, e expõe. A sua fala é segundo as prescripções do Palito Métrico, em um tom nem cantavel nem resado, mas sonoro, espremido e ronceiro (…) Os pontos de interrogação como quem declama, os de admiração erguendo a voz e as sobrancelhas, as vírgulas espaçosas, os pontos redondos e pesados. (…) É um discurso, introdução, prologo, ou como queiram chamar-lhe, feito de palavras sonóras, entretecido de nomes de auctores que façam vista como Puffendorf, Papafava, Bynsckershoek, Vadala Papale, que o classificado decorou e que lança ali á queima roupa! (…) O urso é porém ainda timido e recatado, não falta e não se pretere (…) e ao berregar da Cabra, pouco mais, trepa offegante o Arco d’Almedina ou a Couraça, a enfronhar-se em sebenta e em expositores. (…) O estudante classificado d’um curso, é o urso magno, os outros simplesmente distinctos, são apenas ursos. Todo o estudante que não é urso é conhecido pela designação de musico. O músico limita-se a estudar a sebenta, sem ver materia por fóra; se é estudante regular é musico aficionado, se é menos regular é desafinado, e d’um extremo ao outro ha todos os tons e todas as variedades da gamma musical. E como geralmente os estudantes repetentes são mais desafinados e ficam na aula atraz dos outros, nas ultimas bancadas, chamam-lhe os rapazes a charanga.”
Para todos os colegas que nesta época penam (de escrever muito, com pena) à luz do candeeiro, aqui fica uma lição para que se restabeleça a ordem do habitat natural dos Ursos, recentemente usurpado pelas focas…
Ser urso é mais que ser gente!…
Ser urso é mais que ser homem!…
Ser urso é quasi ser lente!…

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