Opinião: Dark Data: lixo, poluição digital e risco ambiental
O termo Dark Data, que significa dados escuros, é aplicado aos dados não utilizados, desconhecidos e inexplorados de uma organização. Surgem como resultado do conjunto de interações diárias dos utilizadores online com as múltiplas ferramentas digitais, desde os arquivos de log dos servidores aos dados não estruturados provenientes dos media sociais. A generalidade das empresas negligência esses dados e considera-os sem valor informativo, em virtude de terem um formato de dados não estruturados, que não pode ser acedido com as ferramentas disponíveis correntes ou nem sequer sabem da sua existência.
De facto, mais de metade dos dados de uma organização (55%) são considerados não utilizáveis, por serem desconhecidos, não descobertos, não quantificados, subutilizados e complementarmente inexplorados. No entanto, desconhece-se se esses dados podem ou não ter valor para o proprietário, sendo certo, porém, que são negativamente valorizados em termos de impacto ambiental. De facto, a maioria dos equipamentos digitais tem inúmeras componentes passíveis de serem incorporados na produção de outros equipamentos digitais, operação que é considerada como crucial para a transição verde e digital e característica das sociedades de baixo carbono. No entanto, o aumento exponencial de Dark Data, materializado em arquivos de imagens ou vídeos e documentos armazenados em data centers em todas as geografias, que nunca mais são vistos ou usados novamente, não são objeto de limpeza e continuam armazenados na nuvem, nos servidores ou nos computadores.
Um aspeto prejudicial da situação anteriormente descrita está associado à grande quantidade de energia que é necessária para manter todas essas informações. Na realidade, e de acordo com o relatório do The Sift Project (2021), a pegada de carbono dos novos dispositivos digitais, da Internet e dos sistemas que a suportam, representa quase 4% das emissões globais de gases de efeito estufa, que, em termos comparativos, configura uma quantidade semelhante àquela que é produzida pelo setor de aviação, com a agravante da previsão de que aquelas emissões podem duplicar até 2028. A pegada de carbono da digitalização, compara-se com um iceberg: existem grandes poluidores digitais que são visíveis, outros, porém, estão escondidos e ainda não são, ao momento, percecionados. Ao nível das organizações é indispensável entender quanto e quais dados armazenados nas empresas. Ao nível pessoal é igualmente relevante fazer uma triagem das imagens e dos vídeos de que se dispõe, e descartar tudo o que não é necessário, o que significa que a sociedade deve refletir profundamente sobre a quantidade de dados desnecessários que está a ser gerada.
Nesta sequência, o Dark Data acaba inevitavelmente de ter impacto sobre o ambiente. O estudo da Veritas (2020) estimou que 6,4 milhões de toneladas de C02 foram desnecessariamente lançadas para a atmosfera em todo o planeta. O estudo realça a necessidade de proteger o planeta desses resíduos, e, neste sentido, as empresas devem, da mesma forma, concentrar a sua estratégia de gestão dos resíduos e utilizar ferramentas para identificar os dados mais valiosos e descartar dos seus data centers de toda a informação oculta. O estudo anteriormente referido conclui ainda que, em média, 52% de todos os dados armazenados na organização são Dark Data. Os analistas prevêem também que a quantidade de dados que o mundo armazena crescerá de 337TB (1 tera byte = 1 trilhão de gigabytes) de 2018, para 1757TB até 2025. Deste modo, não se estimando que os indivíduos mudem os hábitos muito rapidamente, haverá mais 944GB de Dark Data do que atualmente. A Veritas (2020) admite igualmente que:
“Em todo o mundo a indivíduos e empresas estão a trabalhar para reduzir as suas pegadas de carbono, mas o Dark Data não costuma aparecer nas suas listas de ação. No entanto, está a produzir mais dióxido de carbono do que 80 países diferentes fazem individualmente. É claro, por isso, que esta é uma questão que todos precisam de começar seriamente a ponderar. Filtrar o Dark Data e excluir as informações que não são necessárias deve tornar-se um imperativo categórico e moral para as empresas em todo o mundo.”
À medida que o mundo continua e acelera o processo de digitalização, é importante refletir sobre inúmeras consequências ambientais associadas ao Dark Data, bem como ponderar a necessidade de descarbonização digital. Desta forma, as práticas digitais das empresas e dos indivíduos devem ser integradas numa nova cultura de gestão de dados, de promoção da sua reutilização e implementação de estratégias de gestão de dados direcionada a mitigar os custos energéticos escondidos no Dark Data, para além da necessidade de se cumprir a neutralidade carbónica.