Opinião: Culpa, sem desculpas
Quis a história e os nossos antepassados que o nosso País nos colocasse geograficamente num ponto que podemos considerar simultaneamente o centro do Mundo e o cabo da Europa. Desta linda terra à beira mar plantada, saíram as naus que descobriram o Mundo e que outrora fizeram da nossa Nação uns gigantes conquistadores. Hoje as conquistas não se fazem da mesma forma, as batalhas são diferentes, as naus já não navegam, mas o mais irónico é que mesmo o povo não parece muito importado se a navegação for apenas ao sabor do vento.
As conquistas de Abril de 1974 permitiram que Portugal se fosse preparando para a adesão à então Comunidade Económica Europeia. Algo que viria a consumar-se com efeitos práticos em Janeiro de 1986. Daí em diante e de forma progressiva, Portugal foi beneficiando, (contrariamente ao que algumas pessoas possam pensar) de muito mais que apenas de apoio económico por via dos fundos comunitários.
O desenvolvimento social, político e cultural do Portugal dos tempos modernos é uma consequência inegável da nossa inclusão na União Europeia (UE).
Sou um convicto europeísta. Sou dos que tem muita dificuldade em imaginar que futuro poderia ter o nosso País sem as claras vantagens que a ligação a esta União nos trouxe. A pequena escala, quer geográfica quer populacional, seria um entrave claro ao desenvolvimento do País. A abertura de fronteiras, que derivou da nossa inclusão na UE, voltou a abrir-nos os horizontes dando-nos novamente o olhar para um Mundo global.
Mas, se muito do que somos hoje se deve à nossa integração na UE, por que razão será a nossa população tão desligada num momento tão importante como o de eleger quem nos representa no Parlamento Europeu?
Num Pais genericamente desinteressado no que diz respeito a eleições, o cenário é ainda mais desanimador quando falamos de eleições Europeias. Historicamente, estas eleições são as que apresentam valores mais elevados de abstenção. Com uma tendência quase ininterruptamente crescente desde 1987, a abstenção aumentou de 27,8% (nessa data) até aos 69,3% registados na eleição de 2019. Como é que se explica isto? Como é que podemos, nós, os cidadãos Portugueses, sermos tão desinteressados ao ponto de quase 70% não aceitarmos perder uns minutos da nossa vida para ajudarmos a definir o perfil daqueles que nos representarão no palco onde se definirão das mais importantes matérias para o futuro da UE e consequentemente do nosso País?
O Parlamento Europeu é o único órgão da UE eleito por sufrágio directo. É do Parlamento Europeu, em conjunto com os representantes dos governos de cada estado membro no Conselho Europeu, a competência de legislar. É também destas duas entidades o poder de definir os orçamentos da UE e está ainda confiada aos deputados eleitos para o Parlamento Europeu o poder de fiscalização do trabalho das instituições da UE.
Se tanto as políticas económicas como as políticas sociais que vamos discutir no nosso País de futuro vão estar seguramente ligadas ao que a nível Europeu é definido, como é que podemos demarcar-nos com tal facilidade de ser parte activa desta decisão?
Quando há uma crescente polarização da política a nível nacional cada vez em mais Países dos que compõem a UE, podemos aceitar o risco de deixar na mão de radicais extremistas o futuro das nossas pessoas e das nossas empresas?
Acho que o assunto é sério o suficiente para que todos aceitemos perder um pouco do nosso tempo para verter em voto na urna a opinião de quem achamos que nos representa melhor. Ninguém se pode – nem deve – imiscuir desta tarefa quando em causa está também o futuro do nosso País.
Em Portugal tem que haver mais que 30% de pessoas preocupadas com o seu futuro. Isto não é razoável. Isto não é aceitável.
No próximo domingo, vamos todos ajudar a escolher aqueles que melhor nos poderão representar na UE. O fim de semana vai ser prolongado e apela a umas miniférias, mas o voto foi flexibilizado e agora até podemos votar numa qualquer mesa de voto do País.
O assunto é sério e não há desculpas. Não queiram assumir a culpa.