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Opinião – As suaves raparigas de Bergman

11 de outubro às 11 h12
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Regressar a Bergman é voltar às mulheres de Bergman. E a um tempo de suaves raparigas em verão de amor. Ou em luterana angústia na crua luz de branco inverno.
As mulheres de Bergman, de sensualidade â flor da pele, säo hoje pálida memória, em preto e branco luminoso, de um tempo sem ponteiros no relógio, de fulvas noites brancas à beira de um mar de incandescēncias.
As doces mulheres de Bergman são impossíveis, hoje. A lentidão da beleza de Bergman é impossível, hoje. Bergman é impossível, hoje.
Em Bergman, o erotismo tem um significado ético. E o sensual uma ressonância quase religiosa.
Bergman, como Dreyer, Bresson e Olmi, é um cineasta religioso. Deus encontra-se no rosto, nos grandes planos do rosto. E no corpo, na suave ferocidade dos corpos.
E está na lentidão da fala, na urgência da conversa, no diálogo a dois, sempre de amor, ainda que de faca nos dentes.
Em Bergman o longo tempo da fala secreta, intima, a dois, longe da multidão e do mundo, é o real tempo do divino.
Em Bergman a esfera política não tem espaço. Porque soçobra na imanência do poder. E o poder é o inimigo mortal da transcendência.
Em Bergman encontramos uma alegria feroz pela vida. E uma derrota permanente da morte.
Em Bergman, as lägrimas e os suspiros são a antecåmara dos sorrisos de uma noite de verão.
É preciso regressar ao tempo das suaves raparigas de Bergman.

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