Opinião: As mulheres podem ser presidentes de qualquer país do Mundo

A possibilidade de uma mulher ser presidente de um país em qualquer parte do mundo é uma questão que vai muito além do simples ato de governar. É uma discussão sobre construção social espácio-temporal, reconhecimento, justiça social e igualdade de género.
Várias autoras conhecidas, desde Benhabib, Fraser, Young e Phillips, entre tantas outras, trataram extensivamente a necessidade de incorporar a perspetiva de género nas análises sobre democracia, em particular sobre a representação política das mulheres nas democracias contemporâneas. Neste artigo não proponho analisar o que já foi dito e escrito sobre o tema. Proponho antes reafirmar que essa etapa já deveria estar superada e que não deveríamos precisar de discutir ou defender publicamente a capacidade das mulheres para ocupar cargos de liderança, como recentemente temos vindo a ser confrontados/as.
As mulheres, historicamente, foram excluídas das esferas de poder. O direito ao voto, por exemplo, só foi conquistado por muitas nações em pleno século XX. Já vimos mulheres a assumir a presidência em diversos países, como Argentina, Brasil, Chile, Alemanha, e muitos outros. Essas líderes demonstraram que a competência não tem género.
Apesar disso, a ascensão das mulheres ao poder ainda enfrenta fortes desafios. A representação feminina na política é frequentemente limitada por barreiras estruturais, desde estereótipos de género que as associam às emoções e não à racionalidade, que contribuem para perpetuar uma visão distorcida das suas capacidades. Por exemplo, Simone de Beauvoir destacava como socioculturalmente a mulher era definida em relação ao homem, reforçando a ideia de inferioridade feminina na sociedade.
Mulheres como Angela Merkel, ex-chanceler da Alemanha, e Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, entre tantas outras, destronaram de forma altamente esclarecedora esses estereótipos e barreiras, demonstrando que as mulheres são tão capazes quanto os homens de liderar com sucesso. A meu ver, a liderança feminina pode ser muito enriquecedora por trazer novas perspetivas e abordagens mais inclusivas e integradoras. Estas tornam-se fundamentais no mundo contemporâneo para enfrentar os complexos desafios com que nos deparamos, das desigualdades sociais às alterações climáticas.
Qualquer discurso que refreie a participação, ainda escassa, de mulheres na vida política e na governação dos países, deve ser fortemente rejeitado! É esse o meu intuito com este texto: reconhecer a importância e apoiar a participação feminina na política. Anne Phillips, no seu livro “A Política da Presença”, argumenta que a presença das mulheres na política não é apenas uma questão de justiça, mas também de eficácia governamental. E eu concordo. Concordo também com Miguel Esteves Cardoso que esta semana, no Público, assume gostar muito de Kamala Harris, precisamente porque Kamala é livre, e eu diria mais, é frontal, empática, capaz e forte. E é por fazer frente aos opressores e aos que ameaçam a democracia, sem medo, que é questionada.
Devemos confiar em mulheres talentosas e capazes, humanas e emocionais o suficiente para entenderem que o mundo é pintado por muitas mãos e tem muitas cores. Esta é a diversidade que nos fortalece para lidar com a complexidade do mundo atual. As mulheres podem e devem ser presidentes!