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Opinião: Ai, Portugal, Portugal De que é que tu estás à espera?

29 de janeiro às 10h11
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Muda a folha do calendário e entramos em 2024 com grande incerteza. Durante a campanha eleitoral, iremos ver e ouvir várias visões do país que os diferentes partidos ambicionam ajudar a construir.
O ser humano é repleto de dúvidas. Uma delas, costuma tirar o sono a muitos de nós: “quem sou eu?”. Ao longo da história da humanidade, a busca pela identidade tem sido uma constante para os pensadores, que tentaram responder a esta complexa questão de diferentes formas. Todos já tentamos responder a esta questão em algum momento, seja em Delfos na Grécia Antiga, onde no Templo de Apolo se lê “Conhece-te a ti mesmo”, (em latim Nosce te Ipsum ), ou em Fernando Pessoa através de Álvaro de Campos: “Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo … Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou….Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.”
À pergunta: Quem é Portugal?, uma resposta possível é que somos um país multifacetado e desigual. São vários os indicadores que devemos olhar com atenção: o Banco de Portugal aponta para um crescimento de 2,1% em 2023, mas deverá abrandar para 1,2% em 2024 e crescer 2,2% em 2025 e 2% em 2026. O relatório do Observatório Nacional de Luta contra a Pobreza indica que 20.1% da população residente em Portugal estava em risco de Pobreza ou Exclusão Social. Apesar da taxa de desemprego continuar abaixo dos 7% ( 6,5% em dezenbro), os baixos salários empurram quase 2 milhões de portugueses para uma vida de dificuldade material. Do outro lado da moeda, temos um território diversificado com vários prémios e trunfos no Turismo. Multiculturalidade e tolerância são dois dos valores universais que fazem com que muitos escolham o nosso país como destino de férias ou mesmo para viver, usufruindo da qualidade de vida associada ao país.
Esta contradição estende-se a outros aspetos da vida social: acesso à educação, saúde e justiça. São várias as divisões que observamos:
– Primeiramente entre o litoral e o interior. A incapacidade de contrariar a desertificação e a diminuição de população, cria um fosso cada vez mais profundo entre as cidades litorais e as regiões interiores. O tema da coesão e da regionalização continua, erradamente, fora do discurso político. Se juntarmos a esta discussão a crise de natalidade, encontramos os maiores desafios socias das próximas décadas.
– Por outro lado a divisão entre valores e ideias progressistas e o conservadorismo. Sendo uma sociedade tradicional e com o jugo da ditadura, Portugal “demorou” a entrar no sec. XX. Agora, e em pleno sec. XXI da globalização económica, da individualização e do progresso tecnológico, assistimos ainda uma grande crispação à volta de temas como a cidadania, políticas de migração, segurança ou direitos dos animais. Alguns destes temas e visões, não sendo necessariamente incompatíveis, são extremados no discurso político e em particular nas campanhas.
– Por fim as opções económicas e de desenvolvimento: entre o liberalismo e a importância da intervenção pública/estatal. O peso da dívida pública e a excessiva centralização política, são frequentemente identificados como causadores da estagnação no crescimento. Na realidade, quase dois terços do valor das compras totais das administrações públicas concentram-se na área metropolitana de Lisboa, que gera na capital uma economia altamente dependente do setor público e agrava a desigualdade territorial. Adicionalmente, somos um dos países europeus com piores níveis de investimento público: o financiamento do Estado em Ciência está ao nível de 1991, sendo que o investimento público em investigação e desenvolvimento (I&DT) é 70,5% inferior à média per capita dos países da EU.
Olhando para os próximos anos, antevemos que o próximo governo enfrentará escolhas políticas decisivas. No imediato, o desafio de recuperação económica e da gestão dos fundos europeus exigirá políticas de reforço da capacidade de exportação e de aumento da produtividade. Estes dois temas são já “crónicos” na análise à economia lusa, mas face ao abrandamento prolongado de setores como o Turismo, as políticas de retoma terão de focar a inovação e a sustentabilidade. Acredito que a verdadeira transformação da nossa economia será dinamizada pelas indústrias de bens transacionáveis de média/alta intensidade tecnológica, alinhado com o reforço do estímulo aos investimentos em I&DT. Só assim se reforçará o capital empreendedor, contribuindo para a fixação de talento em Portugal. A democratização do acesso ao ensino superior trouxe uma verdadeira revolução educacional, estando na génese da geração de empresas de base tecnológica. Estas empresas quebraram o paradigma dos salários baixos e reforçam a visão de uma economia aberta e competitiva.
Em Março seremos chamados a dar voz às nossas escolhas. É um direito fundamental que considero um dever, que honra os esforços das gerações que nos antecederam. É importante que a participação de cada um de nós não termine ao depositar o voto na urna. O aparecimento de novos partidos e visões políticas é um indicador que a intervenção cívica ativa é decisiva para construímos uma sociedade mais justa, solidária, empreendedora e próspera. Dia 10 somos chamados a votar. Dia 11 somos chamados a juntar os nossos esforços para construir o país que queremos.
Como canta Jorge Palma: “Ai, Portugal, Portugal. De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera, e outro no fundo do mar.
Ai, Portugal, Portugal. Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar.”

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