Opinião: A TAP na “ótica do utilizador”

Nos últimos 11 anos, tenho sido um passageiro frequente da TAP. Nesse período, foram palco de intensos debates acerca do futuro da companhia aérea: desde a sua eventual privatização até a discussão sobre a manutenção do controlo estatal ou a inclusão de um acionista privado minoritário. Como é comum em Portugal, estas conversas foram numerosas, porém, os resultados práticos foram escassos. Não sou, certamente, a autoridade mais informada sobre a melhor estratégia para a TAP, mas posso partilhar a minha experiência como utilizador habitual da companhia aérea portuguesa.
Quando se trata de voos dentro da Europa, as principais companhias aéreas oferecem serviços comparáveis, distinguindo-se principalmente nos preços dos bilhetes, onde a TAP geralmente se destaca por apresentar tarifas mais elevadas. No entanto, nos voos intercontinentais, a situação é diferente. As rotas para a América do Norte e do Sul são geralmente reconhecidas pela qualidade do serviço prestado pela TAP, com uma relação custo-benefício mais equilibrada. Por outro lado, nas rotas para países africanos, como Moçambique, São Tomé e Cabo Verde, onde a TAP detém um monopólio ou quase monopólio, a realidade é outra. Nestas rotas, a TAP oferece bilhetes com preços de companhias aéreas de luxo, mas com um serviço que deixa a desejar, mais próximo de uma companhia de baixo custo. A falta de simpatia e, por vezes, de profissionalismo das tripulações, aliada à qualidade insatisfatória das refeições, são uma constante. Em comparação com concorrentes como a Air France ou a KLM, a diferença é notável.
Há dois anos, durante a campanha para as últimas eleições legislativas em Portugal, a TAP foi um dos temas mais debatidos. Um exemplo famoso, mencionado durante um debate entre Rui e António Costa, ilustrou como um voo Madrid-Lisboa-Miami era consideravelmente mais barato do que um voo direto Lisboa-Miami. O mesmo padrão repetia-se em voos como Accra-Lisboa e Accra-Lisboa-Madrid, onde o primeiro era três vezes mais caro que o segundo. Um dos argumentos em defesa da gestão estatal da TAP é o seu papel como companhia bandeira que serve os portugueses. Contudo, essa argumentação contrasta com a realidade, pois a TAP aproveita-se do seu quase monopólio em certas rotas para cobrar o que quer aos portugueses, ao mesmo tempo que oferece descontos significativos aos restantes passageiros europeus. Tenho a plena convicção de que, atualmente, e em grande parte das rotas intercontinentais, os emigrantes portugueses escolhem voar com a TAP única e exclusivamente por não disporem de outras opções.