Opinião: À Mesa com Portugal – rankings de restaurantes

A gula pela boa restauração convida a avaliações e classificações.
Não é novo tal, afinal o comum dos mortais só quer ter a certeza de que o restaurante escolhido lhe vai proporcionar uma refeição que fica na memória para todo o sempre.
A ambição é natural e, de uma forma ou de outra, qualquer um de nós tem as suas preferências e, o que é certo, é que existe uma rede informal por onde essa informação vai circulando quase de forma silenciosa.
Contudo, apresentar uma lista de classificação é sempre assunto sério.
É que como me costuma dizer um bom amigo chegado “tudo depende de quem assegura a cozinha, vai-se embora o(a) cozinheiro(a) e o caso muda de figura.”
Bem verdade. A ausência da mão infalível e bem treinada pode significar a mudança da reputação.
Por isso, na maioria das vezes, o melhor é ir experimentar e deixar consolidar a opinião com o sabor ainda na boca.
Não se deixar ir por modas ou por classificações.
Até porque, quando estas se institucionalizam perdem autenticidade e são mais determinadas pelas “tendências” e “conceitos” do que pelo que encontramos no prato.
Se repararem, é frequente que as pessoas, ao relatarem uma refeição num qualquer restaurante afamado, falem de tudo menos da comida. E entenda-se por comida, sabor.
Também é frustrante perceber que os tabelas de classificação construídas e apresentadas ao público sofrem sempre de centralismo urbano e, tendencialmente, litoral.
Como se só alguns pontos do país interessassem.
Tudo depende de quem dá opinião para a elaboração da lista de preferências.
Isto só pode significar duas coisas.
Ou as pessoas escolhidas vivem em zonas urbanas junto à faixa costeira ou estão longe de conhecer bem o país.
É que eu sei de bons exemplos de restauração pelo país todo que em nada ficam atrás dos nomes mais conhecidos.
Aliás, por uma questão de justiça para com os territórios mais afastados dos grandes centros, onde sobreviver implica uma brutal resiliência e espírito de sacrifício, deveria existir o dever moral de puxar mais por estes restaurantes.
Levá-los até à exposição mediática não somente quando acontece um qualquer evento gastronómico, mas ao longo do ano.
Não pretendo discutir critérios ou métodos de avaliação.
Mas, pretendo chamar a atenção para o facto de que a fama da gastronomia portuguesa e a sua promoção tem de ir para além dos restaurantes incluídos nas principais marcas de classificação disponíveis.
Há tanto país para conhecer e tanto restaurante a precisar da nossa confiança.
Ridículo é ficar pelos nomes tantas vezes repetidos sem se saber bem porquê.
E acreditem que, nesta minha apreciação, não está presente de forma disfarçada qualquer preconceito contra a alta-cozinha.
As críticas que faço são tão válidas, para os restaurantes de cozinha de autor onde é o nome do cozinheiro que incita a visita, como para os ditos de “cozinha regional” que, por vezes, mais parecem manjedouras gigantes onde o enfarta-brutos do tradicional cristalizado e pronto a comer é o que chama quem lá vai sem se perceber bem a autenticidade da comida.
Um dos problemas estará na institucionalização dessas avaliações e de quem ganha dinheiro com elas.
É que são empresas que o fazem e os objetivos são comerciais. Não digo que haja um sistema justo e equitativo.
E, seguramente, não tenho soluções para tal.
Mas certo será que a mercantilização da avaliação limita a imparcialidade e reduz as escolhas.
Por isso, ainda que passe os olhos pelas preferências dos designados como entendidos, gosto de me deixar guiar pelo conselho dos meus amigos e pela minha curiosidade insaciável nunca esquecendo que, mais do que a experiência, quero sentir o sabor e deixá-lo perdurar na minha memória.