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Opinião: À Mesa com Portugal – Barrigas, Barriguinhas e Dióspiros

10 de outubro às 11 h51
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Não há meio de me habituar aqueles dióspiros rijos, ditos de roer. Para mim, os moles e gelatinosos é que são Os Dióspiros. Quando me oferecem os outros, faço aquele sorriso amarelo e quase invento que, à semelhança das pessoas que têm o gene que não deixa perceber o bom sabor dos coentros, eu tenho uma dificuldade genética em apreciar a versão rija. Não tem a ver com gostar ou não gostar, mas sim com a completa incapacidade para saborear com prazer os que são de roer. Sei que a vida moderna é pouco complacente com este fruto maravilhoso. Difícil de embalar, de transportar e conservar, os dióspiros molinhos passam ao lado de uma versão rápida da compra. Se os quero, tenho de andar a rebuscar por entre mercados ou pedir aos amigos que os têm no quintal.
Mas nem sei se era disto que queria falar. Só aproveitei porque estamos na altura dos dióspiros e a sua cor combina com o Outono que passeia vagarosamente pela paisagem. Queria falar de barrigas. Umas são barrigas, outras são barriguinhas. Umas são balofas, as outras são jeitosas. Estarei a falar da diferença de perceção entre a barriga numa mulher e num homem. Para nós, mulheres, é quase um pesadelo só resolvido com muitos exercícios abdominais, muita regra alimentar, algumas pílulas para os intestinos e, para algumas, uma possível cirurgia. Para os homens, é uma espécie de benesse positiva da idade, dizem que ficam mais sexies e atraentes.
É claro que não me refiro aquelas barrigas que são ventres dilatados prestes a explodir, algumas, descuido puro da postura física, outras, consequência de abandono de si ou de uma vida inteira de erros alimentares. Falo daquela que, discretamente, sobressai e se evidencia em roupas aperaltadas.
Certo é que, justo ou injusto, nem nos apercebemos de como a ideia de beleza é tão castradora para as mulheres e tão permissiva para os homens. Algumas mulheres passam uma vida inteira em guerra com o seu corpo, desejando ter outro, maltratando as partes que resultam dos ciclos pelos quais vão passando. A maternidade e, não falo apenas de trazer a criança na barriga, mas também do peso do bebé ao longo do seu crescimento, tem as suas consequências. A necessidade de ser plural na atividade física e mental, também. Mas, na hora da verdade, temos de ser princesas irrepreensíveis não nos sendo dada a opção de, apenas, existir de acordo com o que somos. Até posso achar sexy a barriguinha no homem, mas quero gostar de mim como sou, sem promessas de corpo ideal. Simplesmente eu, com ou sem barriguinha.
E, no resto, se alguém tiver dióspiros dos que eu gosto…

Autoria de:

Olga Cavaleiro

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