Opinião – A importância da comunicação social

A dezoito deste mês de Fevereiro, foi publicado no Diário de Coimbra, na rubrica Opinião, um texto da autoria de Cristina Robalo Cordeiro: “O espectáculo do mundo”. Texto magistralmente escrito, centra-se no quadro trágico daquela criança que, em Marrocos, caiu até ao fundo de um poço, acontecimento seguido nacional e internacionalmente pela Comunicação Social. Cristina Robalo Cordeiro apresenta-o numa clara exposição e retrato, mas enfatizando o modo como a comunicação social televisiva aproveitou (ou se aproveitou) deste momento singular, mas acabando sempre por se desdobrar em dois valores, simultaneamente de “admiração e depreciação” e “simpatia e reprovação” (palavras da autora)… e, porque o desfecho foi infeliz, com palavras depreciativas (ou mesmo ofensivas) para aquele povo de Marrocos!
Este artigo fez saltar em mim um “clique” sobre o que há muito me choca, mas a que todos nós assistimos quase por sistema. Sabemos como é importante a comunicação social televisiva, e os trabalhos que passa para satisfazer a “barriga do mundo”. Mas não é admissível que ela circule à deriva, sem responder aos desafios que lhe aparecem, antes informe e desinforme no mesmo programa ou em dias sequentes, a propósito de tantos dos acontecimentos e problemas que deveriam chegar a todos (sua missão), mas de modo claro e verdadeiro (sua obrigação).
Exemplos? São tantos, e alguns até bem recentes no nosso País: Pandemia e pós-pandemia, um assunto que trouxe (se ainda não traz) a população preocupada e desorientada com o que se ia (e vai) passando; confinamentos e desconfinamentos; vacinar ou não vacinar!… Foram tantos os comentadores, convidados ou jornalistas, a saber o que diziam (alguns) ou simplesmente a mostrar-se ao grande público (muitos)!… E o que aconteceu com as recentes eleições? Entrevistas ou debates, propaganda e quezílias entre os vários partidos … exaustivamente aproveitadas, em repetições diárias de partes selecionadas consoante o interesse de momento. Em alguns dos debates televisivos, foi quase escandalosa a participação quase diária de alguns jornalistas ou comentadores convidados, supostamente independentes, sem qualquer preparação para conduzir um debate, a formular tendenciosamente as perguntas ou a tentar conclusões … quase a fazer propaganda encapuçada de um candidato ou de outro. Isto não é jornalismo televisivo, isto não pode acontecer. Mas, infelizmente, aconteceu, como acontece frequentemente na política em geral, na discussão dos problemas da saúde, da educação, etc., e como acontece com a apresentação dos problemas mundiais. Veja-se o que se passa com o conflito Rússia/Ucrânia: Repetem-se imagens captadas há dias ou semanas, como se fossem actuais! Há personagens que estão sempre a aparecer e a dizer coisas, mesmo que tal tenha ocorrido há já dias ou semanas. Dizem-nos que há “informações” e “contrainformações”. Fala-se de conflito, na intervenção dos EUA ou da União Europeia ou da NATO … mas raramente se discute o que realmente está em causa e quais as consequências! Fala-se como de uma coisa que está a acontecer lá longe!… Raramente se ouve falar que “aquilo” também nos diz (ou pode dizer) respeito.
E como é importante a comunicação social!… Repare-se no alarme gerado com o eventual “acto de terrorismo” previsto para a Universidade de Lisboa: São os próprios psicólogos e psiquiatras a alertar que notícias mal conduzidas, ou o uso das chamadas “redes sociais” não devidamente gerido, podem ser viciantes, criar dependência, levar à ansiedade e falta de autocontrolo. Poderão ser assim afectadas pessoas com baixa autoestima, depressão e até carências emocionais.
Liberdade de expressão, comunicação social livre e independente não podem sequer ser discutidas. São a base da democracia. Mas a comunicação social não pode ser “verdadeiro agora e desmentido a seguir” … não pode ser uma “comunicação à deriva”. Por outro lado, as pessoas que comunicam, como operadores de televisão, locutores, comentadores, etc., devem ter um perfil devidamente estruturado e um cuidado especial ao lidarem com as notícias e com o mundo. É mais fácil do que se poderá pensar que uma notícia pode influenciar a mente humana … e não são apenas os jovens adolescentes que correm o risco de serem sugestionados a cair na impulsividade ou no desejo de terem grande destaque social, mesmo que por maus motivos. É aquilo a que poderemos chamar processo de reafirmação na identidade de grupo.
É, por isso, que sinto alguma preocupação com o que vamos assistindo com alguma comunicação social televisiva quando não o faz, mas deveria, respeitar todos os tipos de inteligência. Nenhum tipo de inteligência é inferior ao outro, e cada um deve aumentar as suas aptidões e corrigir as suas limitações. Não podem premiar-se notícias sensacionalistas ou críticas gratuitas, por pura ignorância e incompetência a contribuir para um mau jornalismo quando se entra no fosso escuro da falta de verdade, isenção e selectividade.
Em suma, por comunicação entende-se o dever de quem está a comunicar (emissor) assegurar a quem recebe (receptor) que a sua mensagem está a ser entendida, sem que haja qualquer tipo de má interpretação e sem provocar qualquer abertura de brechas. Tudo o que nos chega pela comunicação social devíamos ter a certeza que é a vida a chegar até nós na sua verdade.