Falta de médicos e enfermeiros ensombra o 46.º aniversário do SNS
ANS gasta cerca de 15 mil milhões de euros anualmente, ou seja 5,5% do produto interno bruto (PIB) e a 12,8% da despesa pública total do país
Em tempo de aniversário, o ServiçoNacional de Saúde (SNS) tem mais de 150 mil trabalhadores, mas os bastonários dos médicos e enfermeiros elencam a falta de profissionais como um constrangimento do serviço público que já gasta cerca de 15 mil milhões de euros anualmente, ou seja 5,5% do produto interno bruto (PIB) e a 12,8% da despesa pública total do país. “O problema principal é a falta de recursos humanos, nomeadamente, de médicos, de enfermeiros, de psicólogos, de técnicos, de uma série de outras profissões”, salientou o bastonário da Ordem dos Médicos (OM).
Estão inscritos na ordem perto de 55 mil médicos em idade ativa, mas estão atualmente nas unidades de saúde públicas pouco mais de 30 mil clínicos, adiantou Carlos Cortes, que não tem dúvidas que, se forem tomadas medidas que valorizem a carreira e que agilizem o modelo de gestão hospitalar, os médicos vão escolher ficar no SNS.
Mais de quatro décadas depois da criação do SNS, Carlos Cortes considera que o sistema vive uma “das maiores crises” da sua história por não ter sabido se adaptar a uma medicina preventiva e às novas tecnologias na área da saúde, mas também a uma sociedade que agora “vive durante mais anos com doenças, portanto, com mais doentes crónicos”.
“Um hospital hoje funciona como funcionava quando o SNS foi criado em 1979”, realça ainda Carlos Cortes, para quem este serviço público é atualmente “uma grande urgência no país”, o que faz com que Portugal seja um dos países que “tem mais consumo deste tipo de cuidados”.
Já para o bastonário da Ordem dos Enfermeiros (OE), Luís Filipe Barreira, 46 anos depois de ter sido criado, o SNS “dá respostas com muitas fragilidades”, também em resultado da instabilidade na implementação de reformas para o setor.
“Nesta fase que Portugal passa por uma escassez brutal de enfermeiros e que tivemos perto de três mil enfermeiros que acabaram agora a sua licenciatura, não tem havido a abertura de concursos para poderem entrar para as instituições e isto leva a que muitos procurem a emigração”, lamenta.
Luís Filipe Barreira adianta que, segundo um relatório do próprio ministério, o SNS precisava de mais 14 mil enfermeiros e que, nas visitas de acompanhamento do exercício profissional, a OE constatou que “há instituições e serviços que têm metade do número de enfermeiros que deviam ter”.


