Opinião: “Caminhar juntos” para construir futuro
O Papa Francisco, na entrega do prémio Carlos Magno ( 6 de maio de 2016 ), disse que tinha “a impressão geral duma Europa cansada e envelhecida, não fértil e sem vitalidade, onde os grandes ideais que a inspiraram parecem ter perdido o seu fascínio; uma Europa decadente que parece ter perdido a sua capacidade geradora e criativa; uma Europa tentada mais a querer garantir e dominar espaços do que a gerar processos de inclusão e transformação; uma Europa que se vai ‘entrincheirando’, em vez de privilegiar ações que promovam novos dinamismos na sociedade; dinamismos capazes de envolver e mobilizar todos os atores sociais (grupos e indivíduos) na busca de novas soluções para os problemas atuais, que frutifiquem em acontecimentos históricos importantes; uma Europa que, longe de proteger espaços, se torne mãe geradora de processos”.
Estão aqui muitos desafios lançados à Europa por alguém que vem doutro continente. Podíamos trocar a palavra Europa por Portugal ou por Coimbra. Podíamos pensar até em trocar Europa por Igreja.
Às vezes parecemos uma cidade e uma Igreja cansada e envelhecida que parece ter perdido o seu fascínio e a sua capacidade criativa e geradora de novos mundos e novos horizontes para além do umbigo. Uma cidade e uma Igreja mais preocupada em garantir e dominar espaços do que gerar processos de inclusão e transformação. Uma cidade e uma Igreja que se vai ‘entrincheirando’ em pequenos poderes em vez de contruir com todos dinamismos de esperança que estimulem soluções para os problemas reais da vida concreta das pessoas (económicos, relacionais, psico-afetivos e espirituais).
Precisamos de aprender a olhar a realidade e a vida a partir de critérios mais existenciais e humanos. Afinal de que vale estar vivo? Como vivemos a vida que nos é dada? O que damos de nós à sociedade que habitamos? Como celebramos a vida uns com os outros? Como reconhecemos as enormes bênçãos recebidas?
Precisamos de contar mais com as pessoas. Há muitos homens e mulheres, jovens e idosos, que podem colaborar na construção de um mundo melhor, de uma cidade melhor, de uma Igreja melhor… Mas é preciso ouvi-los, integrá-los, desafiá-los…
Na Igreja Universal o Papa desafiou-nos a assumir dinamismos sinodais, isto é, de caminho em conjunto. Não como uma possibilidade, mas como o método de referência para toda a ação da Igreja. Nos dias 9-10 de outubro em Roma começa o caminho sinodal apoiado em três dinamismos: comunhão, participação e missão.
Deste modo o Papa quer que ‘este caminhar juntos’ seja o modo de estruturar e viver em Igreja, o modo de viver o presente e de contruir o futuro.