Ateneu de Coimbra em risco após ordem para sair de edifício na Alta de Coimbra
O proprietário do edifício onde o Ateneu de Coimbra está desde 1942 notificou aquela instituição histórica da cidade para sair das instalações na Alta até fevereiro de 2025, mas a associação ainda não tem solução para resolver o problema.
“O Ateneu está desde 1942 em instalações privadas e fez contratos de arrendamento ao longo dos anos. O edifício, nos últimos anos, passou a ter um novo proprietário e, face à nova lei das rendas, o Ateneu estava numa situação de precariedade. No verão, recebemos a ordem para sair das instalações até fevereiro de 2025”, afirmou à agência Lusa Manuel Pires da Rocha, que preside à instituição.
A carta do proprietário, Albano Dias Ferreira, de julho, indica que as instalações deverão ser entregues “libertas de pessoas e de bens”, referiu.
Salientou ainda que a notificação apanhou a direção de surpresa, que pensou que “a ideia seria a de negociação de um contrato favorável para as duas partes”.
“Isto coloca-nos várias questões, porque além de ser uma coletividade que existe desde os anos 1940, com uma atividade importante no tempo da ditadura, vê-se com o despejo de uma valência fundamental que é o centro de dia e serviço de apoio domiciliário. São várias décadas de história que teremos de despejar em poucos meses”, notou Manuel Pires da Rocha.
Segundo o dirigente do Ateneu, a instituição já fez notar ao proprietário que “o período era curto”, ao mesmo tempo que se procuram “novas instalações” para continuar a sua atividade.
“Já tivemos uma reunião com o presidente da Câmara de Coimbra, que acolheu as nossas preocupações e prontificou-se a encontrar uma solução”, aclarou, sublinhando que “não pode estar em causa o fim da atividade” do Ateneu.
Manuel Pires da Rocha referiu que a direção do Ateneu está a tentar encontrar possibilidades legais que assegurem a defesa dos interesses da instituição, ao mesmo tempo que procura encontrar outras soluções de espaço, mesmo que essas não passem por se manter na Alta.
“O Ateneu nasceu do contributo das pessoas que viviam naquela zona da cidade, mas, neste momento, tem uma expressão geográfica mais alargada. Gostaríamos de uma solução com alguma centralidade”, explicou.
Segundo o dirigente da instituição, o Ateneu “assegura uma dezena de postos de trabalho” e quer encontrar uma opção que mantenha os postos de trabalho e a sua atividade como instituição particular de solidariedade social.
O Ateneu, situado na Alta, junto ao largo da Sé Velha, é uma instituição ligada ao combate ao fascismo durante o Estado Novo e que, após o 25 de Abril, assumiu um papel central nas comemorações anuais da Revolução dos Cravos em Coimbra, com a tradicional “queima do facho”.
“Acaba por haver este simbolismo macabro, mas para os interesses imobiliários não há nada de sagrado. Mas estamos focados em encontrar soluções. Não estamos agarrados à dor da mudança, antes pelo contrário”, frisou Manuel Pires da Rocha.
A agência Lusa contactou o proprietário do edifício, Albano Dias Ferreira, que se recusou a prestar declarações sobre o assunto.