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SNS: Combate à Obesidade: mais do mesmo!

12 de março às 17h01
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Dois artigos recentemente publicados na revista The Lancet, que atualizam as projeções para a evolução da população com excesso de peso ou obesidade a nível mundial, recomendam os governos a tomar medidas imediatas para os combater.
Se nada mudar, no caso de Portugal, os dados indicam que, de cerca de 2,8 milhões de pessoas com excesso de peso ou obesidade que existiam em 1990, podemos passar para mais de seis milhões ( 60%), em 2050, sendo as mulheres, jovens ou adultas, que surgem em pior situação do que os homens. Sabemos que a obesidade está associada a um risco acrescido de doenças não transmissíveis como doenças cardiovasculares, musculoesqueléticas, respiratórias crónicas, diabetes tipo 2 e alguns tipos de cancro. Se nada for feito, as consequências sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS), a economia e a população em geral serão devastadoras.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) apresentou no dia 4 de março, Dia Mundial da Obesidade, um plano com 10 medidas prioritárias para acelerar a prevenção e controlo da obesidade, a implementar nos próximos três anos em Portugal.
O documento destaca ainda que cada euro investido na prevenção da obesidade pode gerar um retorno de até seis euros.
No “Roteiro de Ação para Acelerar a Prevenção e Controlo da Obesidade em Portugal” da DGS, parte da ação será focado nos primeiros anos de vida. Serão desenvolvidas ações para melhorar a saúde nos primeiros 1000 dias de vida; e será fortalecida a promoção da alimentação saudável e da atividade física, nas creches, escolas e universidades.
Está, também, prevista a capacitação dos municípios para a promoção da alimentação saudável e da atividade física.

Parabéns à DGS, por repristinar medidas já conhecidas de todos os intervenientes e de longa data validadas. O problema basilar é que as medidas mais uma vez, anunciadas não são acompanhadas de nenhum envelope financeiro, começando pela inexistência de verbas especificas no orçamento de estado para a prevenção da obesidade.

Veja-se um dos exemplos de uma das medidas da DGS. “publicação e implementação de um percurso integrado de cuidados para as pessoas com obesidade”. Já o governo anterior, publicou o Despacho n.º 12634/2023, de 11 de dezembro, que determinou a implementação de um Modelo Integrado de Cuidados para a Prevenção e Tratamento da Obesidade com o objetivo de assegurar o acesso oportuno a cuidados de saúde de qualidade para pessoas com pré-obesidade e obesidade. Infelizmente pouco ou nada aconteceu.

Portugal é o quarto país com o menor gasto per capita em programas de prevenção em saúde e o peso do investimento em prevenção nos gastos em saúde está abaixo da média da OCDE!

Não se combatem problemas de saúde pública com planos teóricos, descapitalizados de financiamento. A pressão da demanda curativa é tão alta que, na construção do orçamento de estado, a prevenção é uma despreocupação representando apenas 3,2% do total das despesas com a saúde, quase metade da média da UE ( 6%).

Já em medicamentos, todos os anos dispara a fatura a pagar. O Estado gastou 37,5 milhões de euros em 2023 em injeções ou comprimidos para ajudar a perder peso para diabetes, um aumento de 38% em relação ao ano anterior.

Em síntese, a nossa lógica tem sido remediar, aumentando a despesa em medicamentos e nas verbas hospitalares, num modelo curativo e não de prevenção comunitária e comportamental.

Reduzir os riscos comportamentais aumentará os ganhos em saúde, permitirá poupanças significativas a longo prazo e poderá ajudar a reduzir as disparidades sociais.

O próximo governo deve apostar mais em prevenção com um orçamento plurianual especifico para a saúde e bem-estar, envolvendo e financiando o SNS e as autarquias, financiando com transparência planos locais de “Promoção da Alimentação Saudável” e “Promoção da Atividade Física” para aplicar já e até 2030.

 

Autoria de:

João Rodrigues

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