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Opinião: Uma fábrica de pobres

07 de abril às 09 h28
1 comentário(s)

O desempenho da economia portuguesa neste milénio tem sido, no melhor dos casos, medíocre. Desde o início dos anos 2000, Portugal tem registado um crescimento anêmico, muito abaixo da média europeia. A estagnação da produtividade, o fraco investimento e a dependência excessiva de setores de baixo valor acrescentado contribuíram para um ciclo de baixo crescimento. O turismo tem sido o setor mais dinâmico da economia, mas caracteriza-se por baixos salários e baixo valor acrescentado, o que limita o seu impacto positivo no rendimento dos portugueses. Esta situação tem-se refletido diretamente na vida dos portugueses, que enfrentam cada vez mais dificuldades para melhorar as suas condições económicas.

Os dados fiscais revelam um retrato preocupante sobre a distribuição de rendimentos no país. Nos escalões mais baixos do IRS, o número de contribuintes mais do que triplicou, enquanto nos escalões mais elevados, a progressão foi apenas para o dobro. Isto significa que a base da pirâmide está a crescer muito mais rapidamente do que o topo, sinalizando uma crescente precariedade laboral e dificuldades em ascender na escala social. A mobilidade económica está estagnada, com a maioria das pessoas presas em rendimentos baixos e com poucas perspetivas de melhoria. Mesmo os ganhos obtidos em termos de salário médio dependem de um impulso sério do emprego público.

Portugal é um país de grandes disparidades. Os mais ricos continuam a aumentar o seu património, enquanto os mais pobres se debatem para manter um padrão de vida digno. Mas, o verdadeiro problema está na incapacidade estrutural da economia portuguesa para crescer de forma sustentada e inclusiva. Sem crescimento económico, a sociedade não tem como gerar oportunidades para todos. Além disso, mesmo os aumentos salariais recentes não trouxeram alívio às famílias, pois foram totalmente absorvidos pelo aumento do custo da habitação. Os preços de compra e arrendamento de habitação tornaram-se incomportáveis. Globalmente, a linha de pobreza merecerá mesmo ser redefinida para acolher estas novas realidades e o número de pobres será maior do que as estatísticas revelam. O peso das despesas com a casa tornou-se um fator de empobrecimento generalizado, tornando evidente que, sem soluções estruturais, Portugal continuará a ser uma verdadeira fábrica de pobres.

A repetição das políticas dos últimos 25 anos não produzirá resultados diferentes. O Estado tem que ser menos burocrático e deixar respirar a economia. Os setores mais dinâmicos têm que ser incentivados, a construção terá que ser desburocratizada e promovida para resolver o problema da habitação e dar um impulso económico: a construção tem um enorme poder de arrasto sobre a economia. Os impostos têm que baixar e os salários crescer. Finalmente, a necessidade de aumentar as despesas militares pode ser aproveitada para dar um novo impulso à economia europeia e à portuguesa, em particular. Para além disso, é essencial atrair investimento estrangeiro e grandes empresas que paguem salários substancialmente mais altos, ajudando a puxar os rendimentos do resto da economia para cima e a criar um mercado de trabalho mais competitivo e dinâmico.

Portugal não se pode resignar a ser uma fábrica de pobres. Mudar este paradigma tem que ser o nosso desígnio nacional, a causa comum que une Estado, empresas e cidadãos. Criar riqueza, distribuir melhor e gerar oportunidades reais para todos deve ser a missão de uma economia que quer prosperar no século XXI.

Autoria de:

Arnaldo Coelho

1 Comentário

  1. Ze da Gandara diz:

    Sôdôtôr,

    O mal de Portugal é em Portugal nada funcionar bem (com o Estado à cabeça, sendo que apenas funciona bem para cobrar impostos ao trabalhador dependente mas extensível também à maioria das empresas geridas por tugas mentecaptos tenham eles sido feitos gestores onde quer que seja, mesmo na madraça do Sôdôtôr, que na Feira de Vaidades tuga do Ensino Superior nem é assim tão cotada quanto isso).

    É uma questão cultural… Um exemplo do funcionamento a reboque de Bruxelas do Estadinho cá do burgo: O Sôdôtôr deve saber por exemplo, que a EU há muito apertou os limites à emissão de partículas pelas viaturas diesel e que há muito vários (a esmagadora maioria) dos Estados-Membros começaram a restringir o acesso às cidades de viaturas poluentes (não me venha com a pessegada que há em Lisboa porque aquilo é isso mesmo: é uma pessegada)… Atentando por exemplo em Espanha (que apesar de um pouco mais evoluída que esta piolheira, não é nem de longe nem de perto um país Escandinavo) e em Madrid mais concretamente… Por lá já foi transposta a sério a directiva europeia aplicável e o assunto da poluição atmosférica e do impacto do mesmo na saúde pública, foi mesmo levado a sério… E a coisa funciona… Muitos veículos mesmo matriculados em Espanha, em função da classificação emitida pela DGT local, simplesmente não entram… E até há sensores de medição da poluição atmosférica que a medem e que permitem de forma dinâmica, ir ainda além das restrições gerais de circulação, em nome da saúde pública que se procurou acautelar…
    Na chamada IPV (a figura homóloga da nossa IPO), aplicaram-se por lá também os limites actualizados da opacidade das emissões (que é o parâmetro que mede as emissões das PM2.5) e com isso a IPO começou a reprovar veículos que se apresentavam à IPO em estado lastimável e que efectivamente andavam a poluir acima do que estava permitido na directiva comunitária… E mais… Detectados na IPO casos de anulação do filtro de partículas nos carros equipados com motores diesel com o filtro de partículas de origem, proprietários e mecânicos que fizeram essa habilidade, foram todos prestar contas à justiça pela habilidade…
    Ora, deste lado da fronteira, é o farwest completo… Os carros com motor diesel que têm filtro de partículas de origem, quando avaria o filtro de partículas (que é algo bastante frequente, sobretudo quando se circula em circuito urbano), o dono chega à oficina e é confrontado com dois cenários: a anulação do filtro por metade do preço da substituição do filtro de partículas e a substituição do filtro de partículas. É óbvio que num país onde se empobrece a trabalhar e mal se consegue sobreviver (parece isto Cuba, embora contrariamente a Cuba, não tenhamos qualquer embargo comercial contra nós dirigido), a primeira opção é logo escolhida, para o carro de seguida ir à IPO e obter aprovação para circular a poluir sabe-se lá quanto acima do que é normal naquele modelo de viatura já de si poluente, tudo porque o Estadinho se tem esquecido de actualizar os limites de emissão de contaminantes (nomeadamente no que toca a opacidade dos fumos de escape) dos motores diesel, regendo-se os centros de inspeção pelos valores do início do século… Sem que aconteça o que quer que seja ao proprietário e ao mecânico habilidoso…

    Ora num país onde a bandalheira de estado que temos, pejado de dirigentes ineptos e mentecaptos e preguiçosos (avessos ao trabalho) nem a saúde pública defende, quer o Sôdôtôr que se consiga fazer o quê além da reprodução da indigência a todos os níveis?

    É que para se produzirem produtos / prestarem serviços de elevado valor acrescentado, é necessário logo à partida, massa cinzenta desenvolvida e capacitada… E nem isso por cá se faz (com responsabilidades infinitesimais para o Sôdôtôr, que professa na sua madraça a réplica daquilo eu vai lendo (e que naturalmente não será o state of the art)… Já tinha chegado a essa conclusão por este prisma, Sôdôtôr?

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