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Opinião: Um sapo é um sapo

04 de fevereiro às 10 h48
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Articulistas e comentadores passaram semanas a convencer-nos de que os portugueses desejavam uma mudança e que Costa estava em queda livre.

Um canal de televisão lançou para o ar alinhamentos pérfidos, persistindo numa agenda de temas sugestivos da necessidade de alternância, procurando hipnotizar o público e mandando-o para a cama embalado com as suas sondagens.

Mais-pau-menos-dedo, as sondagens às vezes acertaram nas projeções.

Então, onde erraram? Nos resultados do PS.

Nunca admitiram a maioria absoluta, mesmo com a margem de erro.

Deram empates técnicos, puseram Rio à frente.

Desengonçadas, sem adesão à realidade, hoje torna-se mais evidente que as sondagens não são confiáveis.

São como o bingo: quando se acerta, é por mera sorte.

A boa campanha não é a da gritaria nem a da proliferação do caos.

Não foi por berrarem muito nem por usarem chavões-engana-tolos que os extremistas conseguiram travar uma maioria.

Contrariamente ao que foi sendo dito, não achei que a campanha tivesse sido pobre. Porquê? Porque nunca antes esteve tão clara a diferença entre as ideias da esquerda e as da direita. Os eleitores puderam escolher. A abstenção desceu, mesmo com a pandemia nos píncaros e com milhares de confinados.

O resultado destas eleições deixou o PSD numa encruzilhada. Porquê? Metade desejava a saída de Rui Rio, apostado numa investida interna a curto prazo. Mas a maioria absoluta do PS faz com que a travessia de quatro anos seja longa demais para quem vier a seguir. Já o CDS, ficou entre uma vírgula e um ponto final.

Apesar de abundantes, os debates não conseguiram desmontar algumas falácias.

Vejamos.

A Iniciativa Liberal demonstrou não ser exatamente a favor do liberalismo, visto que defende menos Estado umas vezes, mas muito Estado outras vezes – sobretudo quando bancos e grandes grupos precisam de injeções de dinheiro e o Estado lhes serve.

Se a IL não é liberal, então o que é? É “plutocrata”: ambiciona uma sociedade controlada por pessoas com grande riqueza e poder económico – a nobreza de outrora, de senhores e fidalgos, com pedigree. Mas isto soa bem apenas nos contos de fadas, porque na vida real, um príncipe é um príncipe, um sapo é um sapo.

O eleitorado afirmou que confia mais no Estado do que nos privados.

Contudo, o Estado tem de avançar com as suas reformas internas.

O País tem a oportunidade histórica de diminuir as assimetrias, de valorizar o interior e de por em marcha a regionalização – aquela que o Presidente Marcelo não queria.

Ironicamente, com a maioria socialista, é o Presidente quem vê atenuado o seu espaço de atuação. O seu estilo interventivo em cima do palco político deixará de ser um travão à implementação de algumas reformas.

É preciso coragem para reformar o sistema político e eleitoral.

Vários pequenos partidos teriam conseguido eleger deputados se os votos contassem todos para um círculo nacional. E várias pessoas de elevado mérito poderiam integrar círculos uninominais e ser eleitas. Isto daria uma longa conversa. Mas é preciso que estejamos dispostos a tê-la!

Olhando para o novo Parlamento, tendo em conta alguma insuficiência dos currículos cívicos, académicos e profissionais, temo que se agudize a sua degradação. Precisávamos dos melhores… Temo que os partidos (todos) não se tenham soltado das amarras do aparelho, de que falavam Bourdieu ou Althusser.

Falta dizer que o chumbo do Orçamento foi desastroso para os partidos da geringonça à esquerda do PS.

Os Verdes, partido satélite do PCP, desapareceu. Acho que Jerónimo de Sousa não queria chumbar o Orçamento, mas face ao seu Comité Central, ele já não é quem mais ordena.

No BE, Catarina Martins falhou mas recusa-se a dar oportunidade de regeneração. Rui Tavares, do Livre, manteve um deputado e pode agora crescer para cima do BE.Muitos têm medo do papão da maioria. Acho que, no-fundo-no-fundo, têm medo do povo que a elegeu.

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