diario as beiras
opiniaoPolítica

Opinião: The answer, my friend, is blowin’ in the wind

27 de janeiro às 10 h16
0 comentário(s)

O famoso refrão da música composta por Bob Dylan em 1962, parece ser um dos pouco refúgios para a agitação que se avizinha. A canção foi escrita como apelo à paz, num contexto da guerra do Vietname e no auge da guerra fria, com a crise dos mísseis em Cuba. A beleza das palavras deste refrão talvez seja a de serem simultaneamente simples e ambíguas: ou a resposta é tão óbvia que está à nossa frente, ou é tão intangível quanto o vento…

A tomada de posse de Donald Trump na Casa Branca não desiludiu os mais ávidos de notícias: uma torrente de decretos, discursos com saudações (in)equívocas e até os fait-divers dos que queriam ser vistos, como Ventura ou Bolsonaro. Uma presença muito notada foi a dos CEO’s das empresas tecnológicas mais poderosas do mundo: Amazon, Meta ou Apple. O que significa o alinhamento destas empresas com as políticas do novo presidente americano? Como impactarão na economia mundial e na vida quotidiana?

Cada mudança não é inócua ou apenas uma mera decisão, pois sendo verdadeiros “atores globais”, as decisões destas empresas em função das opções políticas nos EUA, reverberam por todo mundo, afetando-nos a todos. Por um lado, são muito importantes para muitos países e mercados emergentes como Portugal, que dependem destas plataformas e da comunicação digital. Mas por outro, pela sua difusão, podem reduzir o custo e (ou limitar) a acessibilidade de muitos dos serviços online que utilizamos diariamente como streaming ou o e-commerce .

Outro tópico de discussão nos próximos tempos, serão iniciativas como o Stargate. Este projeto terá um investimento inicial de 500 mil milhões de dólares, previsto ao longo dos próximos quatro anos, destinados à construção de uma nova infraestrutura de I.A. nos Estados Unidos, localizando os servidores no Texas. É liderado pela OpenAI, Softbank e Oracle, mas incluí também outras empresas: Arm, Microsoft, Nvidia e MGX.

Este anúncio levanta várias questões sobre a intervenção direta dos governos no desenvolvimento destas tecnologias e o papel da regulação e de uma legislação global.

Mais do que apenas a questões de proteção de dados, estes projetos reformulam a capacidade negocial e os modelos de monetização destas empresas, tornando-as potencialmente ainda mais dominantes sobre todos os outras empresas e elos nas cadeias de valor.

Reunidos no recente fórum de Davos, alguns pensadores e pioneiros da I.A., incluindo o fundador da DeepMind (adquirida pela Google) Demis Hassabis, ou o cofundador da Anthropic, Dario Amodei, reiteraram alertas sobre as ameaças que pairam se os interesses comerciais e as rivalidades geopolíticas atropelarem as preocupações sobre a segurança e a ética. Outras vozes levantaram questões sobre potenciais monopólios, oligopólios e políticas comerciais abusivas.

Neste contexto de protecionismo americano, com ameaças de aumento das tarifas numa clara chantagem “provocatória”, a União Europeia e as outras regiões económicas são chamadas à mesa para ter uma posição.

Considero que este é uma momento chave e que pede uma intervenção decidida. Face às posições tomadas pela dupla Trump&Musk, a resposta não pode ser outra que não a do respeito dos valores fundamentais de U.E.: Dignidade Humana, Liberdade., Democracia; Estado de Direito, Igualde, Direitos Humanos e Pluralismo. Não podemos conformarmo-nos com a proliferação de notícias falsas e devemos fazer um uso forte do Regulamento dos Serviços Digitais (Digital Services ACT). Esta é legislação da UE que estabelece regras para os serviços digitais, com o objetivo de criar um ambiente online mais seguro para todos os utilizadores, especialmente para as crianças e jovens. A EU tem os instrumentos e tal como do outro lado do Atlântico, não pode ter receio de os utilizar.

A resposta tem de ser forte e constante como o vento, içando as velas do humanismo.

Autoria de:

Jorge Pimenta

Deixe o seu Comentário

O seu email não vai ser publicado. Os requisitos obrigatórios estão identificados com (*).


Últimas

opiniao

Política