Opinião: Requalificar Coimbra
Para além de reindustrializar o concelho e região, considerando e escolhendo as áreas em que investir tendo em vista os aspetos competitivos da cidade (universidade, politécnico, ambiente a desenvolver de apoio à inovação e capacidade de incubação), é importante requalificar o espaço urbano e apostar numa centralidade cultural, explorando as sinergias com as cidades vizinhas. Coimbra, ao contrário do que muitos possam pensar não tem vocação hegemónica, nem dimensão para isso, mas pode e deve ser o centro agregador de um conjunto de cidades médias, cada uma com a sua individualidade e estratégia própria, mas que podem e devem partilhar objetivos comuns procurando com isso ganhar dimensão e visibilidade. Insisto, isto não tem nada de visionário, é somente lógico e quase óbvio. É nesse sentido que devem caminhar as várias sub-regiões da região centro, percebendo que partilham uma identidade comum e que só farão a diferença se atuarem em conjunto. Por exemplo, a candidatura a capital europeia da cultura teria muito mais hipótese de sucesso se tivesse sido encarada como uma proposta regional (portanto, agregadora de cidades e multipolar), em vez de propostas locais que competem pela mesma identidade (diminuindo assim a sua probabilidade de sucesso e até a lógica das propostas).
Requalificar a cidade deve ter em linha de conta os seus objetivos económicos, isto é, ela precisa de ser eficaz para atrair o investimento direto em atividade económica, mas também atrativa para captar a atenção de empreendedores, pessoas de cultura e da ciência, isto é, pessoas que fazem a diferença e criam oportunidades. Do meu ponto de vista, isso significa atuar (a 20 anos) nos seguintes grandes vetores:
1 ) Um sistema de mobilidade inteligente e versátil: tem de ser fácil circular na região, o que implica investimento em mobilidade rápida, elétrica e muito eficaz (isto é essencial para atrair investidores) que se estenda a toda a região. Deve existir uma forte aposta em comunicações digitais de alta-velocidade em toda a região, não privilegiando nenhum local em especial e apostando na harmonização de condições em toda a região de Coimbra. Do meu ponto de vista, Coimbra ganharia muito em iniciar uma política de transportes gratuitos dentro do seu perímetro concelhio.
2 ) Regeneração ambiental e urbana: Hoje em dia, a qualidade do meio ambiente não é apenas um requisito básico da cidade para todos os seus residentes, mas é também essencial para o desenvolvimento de novas atividades económicas e para atrair fundos de investimento cujos agentes são muito seletivos nas características dos locais que privilegiam. Melhorar a infraestrutura urbana, diferenciando-a com aspetos que são distintivos em Coimbra, ligados aos 730 anos da UC, ao património UNESCO, à história da nacionalidade, que se confunde muito com a da Europa e do Mundo, daria a Coimbra características únicas que, bem exploradas, seriam fortemente competitivas. Isso é também essencial para mobilizar a população numa tarefa de transformação de uma região que precisa de se entusiasmar e acreditar num novo recomeço, depois de muitas dezenas de anos de declínio.
3 )Investimento em Recursos Humanos e Transformação Tecnológica: Os novos motores económicos, que Coimbra precisa de atrair e reforçar, andam de mãos dadas com o conhecimento, a cultura e, em geral, com os aspetos imateriais. Não perceber isso é continuar a apostar em fórmulas esgotadas. O que está em causa é estratégia, valores e uma ideia de futuro a médio e longo prazo. A primeira fase terá de ser a de formar recursos humanos nos setores industrial e de serviços para que a região seja competitiva. Esse é um esforço de mudança que deve envolver a Universidade, o Politécnico e uma estrutura de coordenação a política industrial. Valores como conhecimento, criatividade, dedicação e motivação devem ser encarados como um verdadeiro desafio. O mundo de hoje e de amanhã é o mundo do conhecimento. Essa formação deve ser orientada para transformar a nossa região num local com serviços de ponta e uma indústria moderna e competitiva, pois a indústria e os serviços são indissociáveis no contexto em que vivemos. A indústria cria riqueza e emprego e os serviços adicionam ainda mais emprego.
4 )Centralidade Cultural: uma cidade não pode ser financeiramente e economicamente forte sem ser culturalmente importante, e vice-versa. Não há meio termo, nem haverá exceções no futuro. Isto porque nas sociedades contemporâneas, as atividades culturais, as artes, o desporto e o lazer são uma medida da vitalidade coletiva, determinando a atratividade de uma cidade, contribuindo para a sua imagem no exterior e definindo as condições para agregar novas atividades.
Não se deixem enganar. O que temos pela frente é uma transformação da qual dependerá a nossa sobrevivência como cidade média e relevante. É uma escolha e uma atitude. As promessas de distribuição são vazias, porque não há distribuição sem criar riqueza e sem diferenciação.