Opinião: Para lá dos professores
1. Aparentemente, o ano letivo teve início com menos dificuldades do que os anteriores o que se deve aos intervenientes no processo de trabalho das escolas. Mas também se faça a justiça de acreditar que terá algo a ver com a tranquilidade do ministro da pasta, que tem sabido gerir os silêncios e os momentos em que deve falar e buscar soluções. Reconheço a Fernando Alexandre o bom senso que faltou a quase todos os ministros da Educação de Nuno Crato para cá com a exceção devida a João Costa e à sua equipa.
O atual ministro não teve qualquer receio em trazer para o sistema professores com formação científica mas a quem falta a componente pedagógica, coisa que era normal há anos, com os professores a entrarem nos estágios depois de algum tempo de prática docente.
Claro que os tempos são outros, mas foi com esses professores que se formou a geração mais preparada de sempre. Porque tenho aqui falado muito na situação dos docentes declaro que por aqui me fico, pelo menos por agora.
2. Como as escolas não vivem apenas de professores e de alunos vai sendo tempo de falar do pessoal não docente e da carência de que todos se queixam. Num interessante texto publicado no Jornal de Notícias do dia 30 de outubro, Filinto Lima, Presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, vem lembrar que os técnicos especializados e superiores, (e, digo eu, os psicólogos e os assistentes sociais) bem como os assistentes operacionais são fundamentais nos espaços escolares e que também eles estão em falta quando a sua presença se mostra imprescindível, garantindo, uns que o funcionamento administrativo flua com a necessária normalidade, outros que seja feito o acompanhamento de todos os estudantes e os últimos (os antigos contínuos), habitualmente muito próximos dos alunos que conhecem e apoiam de maneira inigualável uns e outros com uma tabela salarial desadequada e que fica longe de compensar as suas responsabilidades. Sei que não é competência exclusiva do ministro da Educação resolver este problema, mas a revisão dos rácios pode muito bem merecer o seu cuidado e influência sobre o governo, particularmente do seu colega das Finanças. Para a resolução desta dificuldade também as autarquias são convocadas exigindo, através da sua Associação Nacional, a transferência das verbas com que satisfazem mensalmente o trabalho dos que laboram nos diversos estabelecimentos de ensino e que se adequam às necessidades do número e tipo de população escolar.
3. Permita- se uma referência pessoal. Faz amanhã, dia 8 de novembro, 60 anos que, vindo da Póvoa de Varzim, desembarquei em Coimbra. Mal imaginava que se tratava de uma vinda sem retorno. Aqui fiz a minha vida, nasceram os meus filhos e trabalhei procurando servir dedicadamente a Educação e a cidade. Depois do almoço desse dia que tão longínquo vai, os “doutores” da minha República Trunké-Kopos mandaram me trajar, porque “vamos ver o Académica-Benfica”. Por um carreiro que se descia para o Calhabé e onde hoje está a Miguel Torga, lá fui atrás dos “doutores”, eu que sou um aficionado do futebol e a quem permitiam, logo no dia da chegada, ver um jogo deste gabarito. Era a 5ª jornada do Campeonato Nacional e a Académica empatou 2-2. Eusébio encarregou-se de marcar pelas águias e Manuel António e Cruz (defesa esquerdo do Benfica, na própria baliza) empataram a contenda. Se a memória não me trai, o Benfica foi campeão nesse anos e a Académica ficou no
4º lugar. Mas o importante desse dia foi a paixão que ganhei por Coimbra!
4. Uma sentida vénia para Teresa Alegre Portugal que, inesperadamente, nos deixou no último fim de semana. Colega e Amiga, todos sentiremos a falta da sua firmeza na defesa da democracia e dos valores que lhe serviram de guião toda a vida. A sua perseverança, caldeada com a doçura que era seu timbre, não vai esquecer. Nos inícios da vida dos sindicatos de professores, ela foi, com a Margarida Ramos de Carvalho, a Teresa Freitas e o Jorge Pinto dos Santos, a voz e a presença do Partido Socialista nesta saga de que colhemos hoje frutos. Até um dia, Teresa.