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Opinião: Os Troianos de Júpiter

09 de maio às 08h55
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No passado 10 de abril, o Dr. Vasco Serra Cardoso foi distinguido com o prémio “Pedro Nunes” para melhor tese ibérica de mestrado em Ciências e Exploração Planetária pela Europlanet Society. A sua dissertação de Mestrado em Astrofísica e Instrumentação para o Espaço, defendida a 25 de setembro de 2023 na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, tinha o título: evolução colisional dos troianos de Júpiter e foi para mim e para a Doutora Paula Benavidez, da Universidade de Alicante, um prazer e um orgulho termos sido seus orientadores.

Mas, afinal, o que são os troianos de Júpiter? Os troianos de Júpiter são uma peculiar família de asteroides que orbitam o sol essencialmente em cima da órbita do planeta Júpiter. (Normalmente, nem os chamamos asteroides mas sim troianos, para não confundirmos com os outros da famosa cintura ). Mais concretamente, se nos colocarmos no sol, com um transferidor, os troianos encontram-se concentrados numa região 60 graus à frente e noutra a 60 graus atrás do planeta Júpiter. Júpiter, na sua órbita, nunca os apanha, pois todos andam à volta do sol à mesma velocidade.

O primeiro troiano foi descoberto em 1906 por Max Wolf. Hoje, conhecemos mais de 10000. Os seus nomes vêm da lendária guerra de Tróia. Na verdade, os que pertentem ao grupo que está “à frente” de Júpiter, recebem nomes de heróis gregos, como é o caso do Aquiles, e os que se encontram no grupo que “está atrás” recebem nomes de heróis troianos, como é o caso do Polidamante. Há duas exceções, alcunhados de espiões. Heitor é troiano e está no grupo dos gregos, e Pátroclo é grego e está no grupo dos troianos.

O famoso Lagrange, em 1772, ao estudar detalhadamente a órbita de um pequeno corpo celeste em torno de um grande, como o nosso Sol, quando à volta desse grande orbita também um grande planeta, como Júpiter, percebeu que nas duas regiões acima referidas era possível ter asteroides que ficariam lá quase para todo o sempre.

 

“Continuaremos sem compreender bem o processo da formação do nosso sistema solar sem compreendermos como se formaram estas famílias”

 

Estes troianos, apresentam ainda hoje muitos mistérios. O primeiro deles é que era esperado que tivessem superfícies muito ricas em gelo de água, mas esse gelo de água, que se crê existir, a existir, está todo tapado por poeiras, muitas delas ricas em carbono. Outro é se eles se formaram na região de órbita de Júpiter, durante a fase inicial do nosso sistema solar em que se formaram os planetas, ou se se formaram noutra região e foram depois capturados pela órbita de Júpiter, pois a órbita do planeta Júpiter variou muito até estabilizar na posição que hoje tem. Outro, ainda, é aquele em que se centrava a dissertação do Vasco: as colisões que eles tiveram entre si. Tudo indica que houve muitas colisões entre eles, fragmentando muito deles em bocados mais pequeno, deixando uns a rodar mais depressa, outros mais devagar, criando pelo menos seis grupos com propriedades diferentes, a que nós chamamos famílias. Continuaremos sem compreender bem o processo da formação do nosso sistema solar sem compreendermos como se formaram estas famílias. E se não compreendemos bem como se formou o nosso… pior compreendemos como se formaram os inúmeros sistemas planetários extrassolares. Mas, lentamente, vamos dando passos.

A sonda espacial Lucy, lançada a 16 de outubro de 2021, irá visitar cinco troianos de Júpiter, entre 2027 e 2033, não sem ter já passado pelo surpreendente asteroide Dinkinesh, no ano passado, estando prevista a passagem por outro asteroide ainda neste ano. Aguardemos!

Autoria de:

Nuno Peixinho

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