Opinião: O Papa Coragem
87 anos, 12 dias fora do conforto da casa, mais de 40 eventos, mais de 30.000 kms. Esta foi a viagem mais longa do pontificado do Papa Francisco e uma das mais longas da história papal.
Falamos de um homem com mobilidade reduzida, com dores nos joelhos, com dificuldade respiratória, com problemas abdominais… Apesar de tudo isto, o que vemos é muitas vezes um enorme sorriso e gestos proféticos e cheios de esperança.
Diante de tudo isto, surge-me uma palavra – coragem.
Coragem no sentido mais etimológico e profundo de ‘agir com o coração’. Uma pessoa que se lança nesta aventura, com esta idade e nestas circunstâncias, revela uma força interior e um desejo de missão que decorre de um coração enorme a desmascarar muitos dos nossos comodismos e das nossas desculpas e cansaços.
O Papa Francisco visitou a Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Singapura. Uma diversidade de regiões e vivências da fé. Desde um país (muito) católico como Timor Leste (com 96% de católicos) onde celebrou com cerca de metade da população – 600 mil pessoas; até à Indonésia que é o país com mais muçulmanos do mundo (com 89,40%) e apenas 3,1% de católicos.
Não deixa de ser surpreendente a visita que fez à Ilha remota do Oceano Pacífico – Papua Nova Guiné, levando consigo uma tonelada de medicamentos e brinquedos.
Trata-se de uma concretização da prioridade que o Papa Francisco dá à Igreja nas “periferias”, afirmando que estas são, de facto, mais importantes do que o centro da Igreja institucional.
Já em Singapura disse que – “nada de duradouro nasce e cresce sem amor”, recordando que “por vezes, a grandeza e a imponência dos nossos projetos podem fazer-nos esquecer isto, levando-nos a pensar que conseguimos, sozinhos, ser os autores de nós mesmos, da nossa riqueza, bem-estar e felicidade. Mas a vida conduz-nos sempre, em última análise, a uma verdade: sem amor, não somos nada”. Concluindo que “o edifício mais bonito, o tesouro mais precioso, o investimento mais lucrativo aos olhos de Deus somos nós: filhos prediletos do mesmo Pai, chamados por sua vez a difundir o amor”.