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Opinião – O Norberto não desperdiçava a vida

15 de agosto às 15h28
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Como todos soubemos de uma forma dolorosa, o Professor Norberto Pires nos deixou-nos abruptamente há dias. Não irei repetir o que muitos outros já disseram e escreveram sobre a personalidade singular, excelência académica e científica do Professor Norberto Pires, que se destacou internacionalmente na robótica e automação industrial.
Quero salientar uma outra vertente deste Homem que não desperdiçava a vida, detentor de uma capacidade de trabalho incansável, de uma dedicação atenta e permanente à sua família, de uma generosidade genuína para partilhar o que sabia. Quero sublinhar a vertente de comunicador de ciência e tecnologia que nunca descurou.
Tive oportunidade de conversar variadíssimas vezes com o Norberto Pires sobre a importância de as instituições científicas promoverem a transmissão do conhecimento que produzem para a sociedade. A Ciência não é só dos cientistas, é de todos. Para além de que para a ciência ficar completa ela tem de ser comunicada de forma descodificada, acessível e útil. Mesmo tratando-se de ciência fundamental.
A transferência de conhecimento das Universidades para a sociedade é vital para o desenvolvimento económico. Neste contexto o professor Norberto Pires dava particular atenção e enfase a essa transferência de conhecimento para a modernização da Indústria. Desde 2015 que acompanhava e conhecia como poucos em Portugal as mudanças que deveriam ser efectuadas no âmbito da “revolução” designada por “Indústria 4.0”. A propósito, e nas palavras do Professor Norberto Pires numa entrevista me concedeu em 2019, “Indústria 4.0” é o nome que se dá a uma iniciativa internacional que tem como objetivo reganhar competitividade e produtividade da indústria. Nasceu na Alemanha em 2015, sendo proposto como um plano a 10 anos que pretende atingir esses objetivos revolucionando a cadeia logística associada a todos os processos de transformação industrial, isto é, o caminho entre as matérias primas e o cliente final.” O Professor Norberto Pires estava muito empenhado nesta transformação industrial, preocupado com o nosso relativo atraso e com o facto de as Universidades não se estarem a modernizar para acompanhar as novas necessidades das indústrias.
O Professor Norberto Pires dedicava parte do seu tempo à divulgação de ciência através de diversas actividades. Recordo palestras de divulgação de e sobre robótica: no Museu da Ciência na iniciativa “ciência em família”; no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra integrado ciclo de palestras “Ciência às Seis” que eu coordenava; no Exploratório Centro Ciência Viva de Coimbra. A sua ida às escolas para enriquecer as perspetivas dos alunos também era frequente.
Tive a honra de poder contar com o Professor Norberto Pires como colaborador do projecto “Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva”, que eu coordenava. Escreveu para este projecto seis artigos de divulgação de ciência com uma linguagem clara, acessível sem perder o rigor científico necessário. Os inúmeros diálogos sobre a edição dos artigos foram sempre muito construtivos para mim.
Nos últimos tempos, estávamos a preparar uma nova colaboração no projecto “Cultura, Ciência e Tecnologia”, iniciativa da Associação Portuguesa de Imprensa que estou a coordenar. Envolveria a escrita de um artigo de divulgação científica por mês, e os primeiros iriam incidir sobre a “Indústria 4.0”, uma breve história da robótica e sobre a sua evolução na indústria aeroespacial. Os diversos artigos embeberiam a actualidade, mas estariam debruados de futuro.
Sim, porque o Professor Norberto Pires era essencialmente um Homem de futuro.

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