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Opinião: O mundo como marioneta dos ultra-ricos: para onde caminhamos?

08 de fevereiro às 10h37
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Há dias em que a realidade se impõe como um cenário de ficção distópica, onde os destinos das nações e das pessoas parecem ser governados pelo capricho de uma elite de trilionários e líderes autocráticos que acumulam poder sem prestar contas. O que testemunhamos é uma reconfiguração geopolítica, onde territórios são cobiçados como peças num tabuleiro de xadrez, mas com consequências bem reais e avassaladoras. Quem decide agora os rumos do mundo? Os eleitos democraticamente ou aqueles que, com fortunas superiores ao PIB de países inteiros, onde se inclui Portugal, se fazem eleger manipulando massas através das redes sociais e controlando a narrativa global ao serviço dos seus próprios interesses?
Não estamos apenas a falar da cobiça por territórios, como a Groenlândia, o Canal do Panamá, a Crimeia, ou da apropriação desenfreada dos recursos naturais usando isso como moeda de troca por armas. Assistimos a algo ainda mais insidioso e avassalador – a captura da política por um punhado de ultra-ricos que, até há pouco tempo, se limitavam a comprar governos, mas que agora assumem diretamente o poder. E fomos nós que lho demos. Foram eleitos, legitimados pelo desespero, pelo descrédito das instituições, pela erosão da democracia, pela cobiça e pela ganância. Estamos a assistir ao aprofundamento de um processo histórico de saque e pilhagem que começou há séculos, impulsionado pela acumulação de capital e pela apropriação dos ‘bens comuns’. As crises, em particular a socio-ecológica e as alterações climáticas, exacerbam esta luta feroz pelo controlo das pessoas e dos territórios, uma vez que a escassez de água, a desertificação e o esgotamento de matérias-primas transformam em zonas estratégicas os espaços onde ainda existem naturezas vistas como ‘recursos’ disponíveis. Esta luta pela apropriação não é nova. Desde sempre que as grandes potências impõem a sua força sobre os territórios e as suas populações para alimentar a sua ganância. Mas agora, com o colapso climático a tornar evidentes a finitude dos ecossistemas, a fragilidade do planeta e o ténue equilíbrio do ciclo vida e morte, a disputa tornou-se ainda mais intensa e perigosa. O que antes era justificado pelo expansionismo colonial ou pelo progresso económico é hoje uma guerra aberta pelo controlo dos últimos refúgios naturais. Até onde vamos pactuar com isto?
Ao longo da história, a humanidade sempre foi manipulada pelos seus próprios mitos e estruturas de poder. Na antiguidade, por exemplo, eram os deuses que decidiam os destinos coletivos. Hoje são os personagens do capital económico que se arrogam o direito de determinar como devemos viver, consumir, trabalhar e até sentir. O problema é que, desta vez, não olhamos para o Olimpo ou para os deuses caprichosos da Odisseia para entender quem puxa os fios: Elon Musk, Jeff Bezos, Donald Trump e outros oligarcas modernos fazem-no diante dos nossos olhos e com o nosso consentimento.
Enquanto isso, continuamos a viver num teatro onde a incerteza, a infelicidade e o medo parecem ser a moeda de troca do sistema. Aceitamos que a precariedade, a falta de perspetiva e a erosão dos nossos direitos sejam o preço a pagar por um modelo económico e político que já não nos serve socialmente, ecologicamente e culturalmente, mas continuamos apegados a ele. A questão central permanece igual. Ou vamos continuar a ser as marionetas neste teatro, ou encontraremos formas de reconfigurar a estrutura da sociedade para que o poder possa pertencer verdadeiramente às pessoas? É verdade que a democracia, tal como a conhecemos, está em profunda crise. Mas ainda é nossa. Cabe-nos decidir se queremos ser os protagonistas da mudança ou se aceitamos, resignados, que nos roubem o futuro.

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