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Opinião: Matérias-primas críticas para a UE (#2 ): O paládio da Federação Russa

31 de março às 11h34
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A invasão da Federação Russa a um País livre é inaceitável e, esta guerra vai colocar em causa o já por si só difícil caminho da descarbonização do planeta.
Sobre a energia já todos percebemos que a política europeia ao dar a mão à Federação Russa, importando o seu gás natural sem ter um plano B viável, virou-se contra o mundo livre num efeito bumerangue para o qual a Europa não está preparada e cujos resultados são inimagináveis de momento.
Perante estes acontecimentos o título do nosso recente artigo, O Inverno está a chegar, publicado neste jornal em dois de dezembro p.p., talvez agora se intitulasse “O Inverno que chegou do inferno”.
Não importa afirmar que Portugal e os portugueses não vão sofrer com o inevitável cancelamento do abastecimento de gás natural russo à Europa. Mesmo importando 17% do gás natural russo que pode ser substituído por outros fornecedores, Portugal e os portugueses importam bens alimentares e matérias primas de países europeus e outros, cuja economia está demasiado dependente desse fornecimento de gás natural russo, situação que se irá refletir não só no preço dos combustíveis, como já sentimos, mas também no preço dos bens alimentares, das matérias primas e obviamente de produtos acabados.
Estamos já perante uma economia de guerra…
Nas próximas décadas outro tema sobre energia vai estar, obrigatoriamente, nas narrativas políticas e económicas da UE, falamos da energia nuclear…! Sim, a UE, pressionada pela França e pela Alemanha, apresentou em 31 de dezembro último o draft do projeto europeu de rotulagem verde de centrais nucleares e gás. Vamos ver a versão final…. Ainda sobre este tema sugiro o visionamento da entrevista da Grande Entrevista da RTP 3 ao do Eng.º António Costa e Silva no dia 10 de março p.p. (min. 34’:35” a min. 40’:50”).
Sobre matérias primas, iniciámos, no último artigo aqui publicado, uma série sobre que são críticas ou essenciais para a UE.
Uma dessas matérias primas críticas ou essenciais cujo fornecimento mundial depende em cerca de 40% da Federação Russa é o Paládio (Pd), que se encontra incluído nas 30 matérias primas essências para a UE 2020, no grupo da platina (PGM’s).
Na Federação Russa o paládio é minerado na Sibéria pela Norilsk Nickel (Nornickel) junto à ultra poluída cidade industrial de Norilsk, atravessada pelo rio Yenisei, um dos mais poluídos do mundo. A Nornickel é gerida por um oligarca russo que, segundo o New York Times online de 2 de março p.p. é, desde há duas décadas, um dos maiores “mecenas” do Museu Guggenheim.
Enfim…! Ironia? Não, não é ironia, basta observar os milhares de crianças ucranianas a fugir da guerra para não haver ironia nenhuma, somente uma imensa dor de alma, uma profunda revolta e lágrimas. Glória à Ucrânia.
Voltemos ao paládio.
Esta matéria prima essencial à UE é utilizada na fabricação de catalisadores de automóveis que conjuntamente com outro minerais críticos como a platina (Pt) e o ródio (Rh), transformam os gases poluentes do motor a combustão em gases inofensivos para o ambiente. Cerca de 50% do paládio é utilizado na fabricação de catalisadores de automóveis essenciais no controlo da poluição automóvel, os outros 50% aplicam-se nas indústrias elétrica e eletrónica, química e farmacêutica e ainda na odontologia e fabricação de instrumentos cirúrgicos.
Não restam dúvidas que a situação geopolítica atual vai fazer subir exponencialmente o valor do paládio e diminuir a oferta deste mineral, que hoje, dia 11 de março, às 15horas, tem uma cotação de mercado de 81,149€/gr. O ouro, para o mesmo dia e hora, tem uma cotação de mercado de 57,840€/gr.
É o valor deste mineral no mercado das commodities, bem como a cotação da platina e ródio que explicam o escalar de furtos de catalisadores automóveis, como tem vindo a ser amplamente difundido pela comunicação social.
A repugnante invasão da Ucrânia pela Federação Russa veio, assim, acrescentar um novo elemento aos já designados minerais de conflito que tanto nos inquietam. Ao ouro, estanho, tântalo e tungsténio, estes dois últimos minerais críticos ou essenciais devemos acrescentar, agora, o paládio importando da Federação Russa como um mineral de conflito, pois é com certeza, um dos financiadores desta hedionda guerra.

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