Opinião: Em busca de soluções sustentáveis: reconhecer e articular saberes, culturas e modos de vida
Neste artigo, gostaria de me concentrar no ‘como fazer’ na busca de soluções para os desafios socioecológicos da contemporaneidade. Proponho refletir em torno da ideia de articular saberes, culturas e modos de vida como fundamental para promover a diversidade, o diálogo intercultural e o enriquecimento mútuo nas sociedades contemporâneas. No entanto, a articulação implica reconhecimento, não apenas como um gesto simbólico, mas como uma atitude fundamental para estabelecer um diálogo autêntico e respeitador entre diferentes saberes e culturas. O reconhecimento permite afirmar diferentes perspetivas, abrindo portas para uma compreensão mais profunda e colaborativa. Esta abordagem tem como principal objetivo promover a compreensão mútua entre diferentes grupos culturais, respeitando e valorizando as suas diferenças. Ao nos propormos a articular saberes, estamos a abrir espaço para a troca de conhecimentos entre diferentes grupos culturais e diversas disciplinas. Cada cultura possui uma riqueza única de sabedoria, tradições e experiências acumuladas ao longo de gerações. Ao aprender com essas culturas, enriquecemos o nosso próprio repertório e ganhamos novas perspetivas sobre o mundo que podem ser decisivas na definição de novas estratégias para lidar com os desafios com que o mundo atual nos confronta.
Frequentemente, quando entramos em contacto com pessoas de diferentes origens e culturas, somos confrontados com os nossos próprios preconceitos e estereótipos. Isso desafia-nos a superá-los e a reconhecer a humanidade comum que nos une. Aqui, a articulação de culturas e de modos de vida, com as suas formas de organização social, promove o respeito mútuo.
Mais do que apenas uma questão cultural, de reconhecimento de saberes e poderes, gostaria de sublinhar que a ideia de articular esses saberes e culturas, logo esses poderes, é crucial para enfrentar os desafios globais complexos. Problemas como as alterações climáticas, a degradação ambiental, as migrações em massa, a pobreza e a desigualdade não conhecem fronteiras culturais. Eles exigem abordagens interculturais e multidisciplinares para serem resolvidos de forma eficaz. Mas também sensibilidade cultural, empatia e uma abertura genuína para incorporar experiências plurais.
As epistemologias dominantes, tendencialmente exclusivas, frequentemente marginalizam outras formas de conhecimento e práticas. A articulação procura reconhecer e valorizar a pluralidade de conhecimentos que orientam o mundo da vida, aos quais subjazem diferentes culturas e diferentes sistemas de conhecimento. Articular saberes significa reconhecer sistemas plurais, desde a educação, à política, economia e cultura, e princípios de organização e classificação do mundo diversos. Reconhecer sistemas plurais e diversos favorece a recuperação e a revitalização das identidades culturais e interculturais, bem como dos saberes locais. Às sociedades é exigido que, no mundo atual e no contexto da complexidade dos desafios socioecológicos que enfrentamos, criem espaços onde diferentes perspetivas e conhecimentos possam coexistir, enraizar-se nos contextos e nos territórios e contribuir para a construção de sociedades verdadeiramente plurais e justas.