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Opinião: E depois da pandemia?

23 de fevereiro às 11 h36
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Acabámos de ver eliminadas praticamente todas as restrições que estiveram ligadas à pandemia.

Estamos agora, presumivelmente, todos mais livres! Mas vamos mesmo voltar ao (novo) normal? Tenho as minhas dúvidas.

Primeiro, porque a pandemia ainda não está oficialmente terminada.

Não sabemos o que ainda está para vir. Virá ainda uma nova variante? Eu estou otimista, mas de ‘pé atrás’.

Dizem-nos que a seguir à pandemia vem a endemia.

É apenas uma questão de semântica.

Na prática não significa nada.

O que marcou a diferença foi a elevada percentagem de pessoas completamente vacinadas ( 3 doses).

Que se verifica apenas nos adultos, muito menor nas crianças.

É certo que estas são geralmente mais resistentes aos efeitos do “bicho”, mas esta última vaga foi despoletada essencialmente pela infeção nos mais novos, no início deste período letivo.

Por isso, não compreendo a relutância de muitos pais.

A minha recomendação é, portanto, que vivamos a nossa nova vida com cuidados redobrados e não confiemos demasiado na nossa imunidade.

Mas não era sobre estes aspetos que eu queria versar hoje.

Antes, desejo chamar, como outros o têm feito, a atenção para as consequências do ‘desastre’ por que passámos nestes últimos 2 anos.

Primeiro, sobre as pessoas que tiveram a infelicidade de ser infetadas, especialmente os hospitalizados e, acima de tudo, os que necessitaram de assistência respiratória e/ou circulatória, que continuarão sob a ameaça de sequelas que não são, ainda, mensuráveis.

A chamada Covid Longa já conta mais de 200 sequelas identificadas e, passa a ser designada como Condição Pós-Covid, por determinação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Isto é, a doença passa à condição de crónica e não sabemos, ainda, até que ponto estará comprometida a função de órgãos vitais

Depois, sobre os que não tendo tido a doença foram por ela afetados secundariamente.

Um estudo promovido pela OMS mostra que o luto, o isolamento, a perda de rendimentos e o medo estão a desencadear alterações de saúde mental ou a exacerbar as já existentes.

Muitas pessoas podem estar a enfrentar níveis elevados de uso de álcool e drogas, insónia e ansiedade.

Este estudo evidenciou ainda que o próprio COVID-19 pode levar a complicações neurológicas e mentais, como delírio, agitação e acidente vascular cerebral.

Pessoas com transtornos mentais, neurológicos ou de adições pré-existentes também são mais vulneráveis à infeção por SARS-CoV-2 e podem ter um risco maior de resultados graves e até morte.

Finalmente, estão aqueles que não tendo sido diretamente ou indiretamente afetados por esta doença, sofreram e sofrem de outras doenças não relacionadas e não foram (atempadamente) tratados.

Estão aqui especialmente representadas as várias formas de cancro e as doenças cardiovasculares.

Os milhões de consultas e as centenas de milhar de cirurgias que não se realizaram ou foram drasticamente retardadas terão um impacto até agora ainda difícil de quantificar.

Em resumo, estamos, presumivelmente, a chegar ao fim de uma guerra que, como qualquer outra guerra, tem impactos duradouros que fazem com que a nossa vida, daqui para frente, não possa voltar a ser o que era dantes.

De algumas coisas do passado vamos ter saudades, de outras talvez nem tanto. Tenho saudades dos beijos e abraços! De conviver, de celebrar, de viajar para participar em congressos por esse mundo fora!

É, no entanto, importante salientar que com a pandemia muita coisa de positivo surgiu.

O avanço tecnológico ocorrido nestes dois anos em muito ultrapassou o que se verificara na última década.

A começar pela velocidade impressionante com que se desenvolveram as vacinas, nunca antes vista para situações similares.

Também na medicina, na entrega ao domicílio, na comunicação e no streaming’.

E nos progressos feitos na área do teletrabalho, em que se inclui a telemedicina, dois aspetos em relação aos quais eu sou, aliás, bastante cético! Mas isso é outra cousa; a verdade é que o avanço tecnológico está historicamente ligado às necessidades humanas.

Também foi assim depois da última grande guerra.

Para terminar, apenas uma nota: Quando me preparava para escrever este texto, era minha intenção abordar o impacto da pandemia no Serviço Nacional de Saúde.

Durante todo este tempo, o SNS esteve debaixo de fogo. Pelas boas e pelas más razões. O espaço que nos é reservado para estes artigos de opinião não me permite ir, hoje, mais além. Fica prometido para o próximo mês…

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