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Opinião: Deus (não) gosta de piadas!

24 de junho às 08h54
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Humor e Deus ou humor e religião… não parece uma boa conjugação. Não é por acaso que a sabedoria popular diz – “com Deus não se brinca”. E Deus brinca com os homens? Parece que o melhor é dizer que não (antes que alguém fique chateado).

‘Muito riso, pouco siso’ – diz o povo e pensam muitos (sobretudo os que se rirem pouco). O riso e o humor continuam a ser associado a superficialidade, banalidade e a pouco juízo… Mas ‘rir é o melhor remédio’, pelo menos para muitas circunstâncias.

A própria Bíblia, no Antigo Testamento, diz: “Mais vale a tristeza do que o riso,
porque a tristeza do rosto é boa para o coração. O coração dos sábios está na casa do luto; o coração dos insensatos, na casa da alegria” (Eclesiastes 7,3-4 ).

Isto vai marcando uma mentalidade e alimenta um sentido que reforça a tristeza, o luto, as lágrimas… ligando-as a sabedoria e a seriedade.

De facto, no Novo Testamento nunca se diz que Jesus se riu. Só se diz que Ele chorou pelo menos três vezes: na morte do seu amigo Lázaro (João 11,35 ); sobre a cidade de Jerusalém (Lucas 19,41 ); e antes da sua morte (Hebreus 5,7 ).

É ‘por estas e por outras’ que muitos associam Deus e a religião à tristeza, às lágrimas, ao sofrimento… Nesta conjugação, o humor e a alegria parecem ter pouco espaço.

Mas devo dizer que tenho uma ideia muito contrária sobre a religião e sobre Deus. A bíblia está cheia de humor, de momentos de alegria… e Jesus foi um homem com (muito) humor. Muitas vezes um humor discreto e inteligente.

Aliás Ele foi acusado de comer e beber: ‘um glutão e um bêbado’ (cf. Mateus 11,19 ). Jesus participou em várias festas. Recordemos, desde logo, as Bodas de Caná onde realizou o primeiro milagre, transformando cerca de 600 litros de água em vinho, símbolo da alegria, da aliança e de Deus.

Jesus que experimentou a alegria, disse no fim da sua vida: “Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa” (João 15,11 ). Não uma alegria qualquer, mas uma alegria completa.

O mesmo Deus que chora é o Deus que ri, que celebra a vida, que participa nas festas, que vive a vida plenamente.

A própria liturgia celebra duas vezes por ano o domingo da alegria: terceiro domingo do advento (também designado Gaudete) e o quarto domingo da quaresma (também designado Laetare). A estes domingos podíamos juntar muitas festas e solenidades.

Cada domingo e cada eucaristia é (devia ser) uma ação de graças e uma festa.

O Papa Francisco, no recente encontro com mais de 100 humoristas de todo o mundo, sublinhou a importância do sorriso e do humor no meio de tantas sombras. Claro que falava do humor que não ofendem nem humilha.

Nietzsche disse que só acreditaria num Deus que soubesse dançar. Eu digo que só acredito num Deus que ri. O ‘meu’ Deus gosta de piadas e de boas gargalhadas.

Confesso que só confio nas pessoas que riem. Os sisudos, os mal-dispostos, os ‘des-humorados’… não são para levar a sério, vivem de traumas, de arrogâncias, inseguranças, de desajustes afetivos, de pseudo-poderes…

Autoria de:

Nuno Santos

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