diario as beiras
opiniao

Opinião: Da minha escola vê-se o mundo a mudar

27 de fevereiro às 10h26
1 comentário(s)

Está situada no espaço do sonho e lá bem no fundo da imaginação. Foi observada a olhar e a repensar o ser humano desde as suas origens até ao fim incerto e temeroso que nos espera e o que a história nos ensina sobre aquilo que somos! Sabemos de onde vimos, não sabemos para onde vamos. Temos de olhar para dentro de nós, temos de olhar à nossa volta, ver as reviravoltas que o mundo deu, as barbaridades do homem ontem e as desumanidades do homem hoje, e esperar que as crianças e os jovens tenham mais juízo que os adultos. A nossa esperança temos de situá-la na pureza inicial e não na crueldade dos megalómanos que dominam o território, que seduzem, no seu egoísmo atroz, os ingénuos que aspiram segui-los, apoiá-los e trepar pelos mesmos degraus da insanidade e da ganância. Gente reles!

A melhor escola está dentro de cada um de nós. O que a escola tem de fazer não é sufocar os nossos talentos ou as nossas ambições, é ir ao seu encontro, conhecer, esclarecer, desenvolver, aprofundar, superar. Dentro de nós estão desenhos com formas e cores tão diferentes, jardins floridos, paisagens coloridas, notas musicais, campos de jogos, campos agrícolas, motores de aviões, tudo o que o imaginário pode conceber está nas nossas mentes à espera de oportunidades que nos realizem, nos façam crescer. Dentro de nós está o mar imenso e o céu infinito.

O maior vício da escola foi apagar tudo isso, foi afogar visões tão puras e diferenciadas eliminando os desígnios pessoais e todo o seu potencial. Numa imagem grosseira e agressiva, foi deitar o lixo imundo num vaso de flores coloridas e perfumadas. Retiramos de nós o que há de puro e original, a nossa idiossincrasia, e substituímos por uma pilha elétrica uniforme, de fraca intensidade, que não ilumina o caminho. Temos de inventar uma nova escola!

Muitos professores, desiludidos, continuam a desistir, a desertar. A capacidade de atração é mínima. Temos de inventar novos professores e de valorizar os que resistem. Temos de definir o perfil ótimo do professor em três vertentes-chave: 1 ) a vertente científica, com o foco na metodologia da investigação em todos os ciclos da docência; 2 ) a tecnológica, incluindo a IA, como repositório e suporte de todo o saber acumulado ao longo dos séculos; 3 ) a pedagógica, centrada na autonomia e individualização das aprendizagens, suportadas por uma plataforma digital que identifique e acompanhe cada aluno desde a primeira infância, analisando forças e fraquezas como marcos para a sua avaliação e orientação. Os professores merecem ter objetivos e incentivos fortes, um itinerário preciso para a sua promoção e ascensão. As escolas precisam de todos.
Os docentes que cumpram estes objetivos até aos mais elevados graus académicos deverão triplicar o vencimento. O seu número reduzido será compatível com o orçamento. Aos outros docentes em serviço deverão ser dados incentivos para poderem atingir os requisitos enunciados, garantido os custos da sua formação em serviço, sempre com a possibilidade de subir ao primeiro escalão.

Os professores em falta poderão ser substituídos por professores virtuais, programados para desempenhar todas as funções rotineiras e burocráticas: corrigir os erros, prestar esclarecimentos, avaliar os trabalhos, sugerir caminhos adequados às motivações e necessidades dos alunos. A IA permite cumprir com grande eficácia todas estas e outras tarefas, libertando os professores humanos para as funções inacessíveis às máquinas.

Face a este quadro, para que servem afinal os professores humanos? No essencial: 1 ) Para programar e reformular os professores virtuais de acordo com o perfil de cada aluno: 2 ) Para desempenhar as funções humanas inacessíveis às máquinas: as relações humanas, o trabalho de grupos, a empatia, a cooperação, a criatividade, os valores, a personalidade, o caráter, as dúvidas, enfim, um largo espetro de variáveis só acessíveis aos humanos.

Os professores virtuais podem completar os humanos com algumas vantagens: não se cansam, não têm horários, podem assistir os alunos aos sábados, aos domingos e feriados, a qualquer hora, na escola ou em casa. Neste cenário não há alunos inativos. Cada aluno pode ter um professor virtual, adaptado ao seu perfil, com capacidade para acompanhar e estimular no sentido desejado, para corrigir os erros comuns, para dar respostas a dúvidas, inclusive para gerir os conhecimentos necessários. A IA é o salto para a individualização das aprendizagens, proporcionando a cada aluno um tutor individual.
A escola de hoje assenta no computador e na IA. Reside aqui o maior repositório do conhecimento de todos os tempos, igualmente acessível a professores e alunos, abrindo portas à autonomia e à individualização das aprendizagens, estimulando a iniciativa e o espírito crítico. O computador que fornece todo o tipo de conhecimento e de informação também recolhe e organiza as atividades dos alunos. São os dados que nos permitem ver o caminho percorrido e definir as orientações para o caminho a percorrer. O sistema informático da escola e da educação a nível nacional deve dispor de uma plataforma digital, como existe na saúde, que receba e organize toda a informação de cada aluno, todas as produções e iniciativas individuais, desde o pré-escolar até ao superior. O diagnóstico e o percurso são a fonte mais segura para a avaliação e orientação de cada aluno.

O sistema educativo tem de ter uma base de dados fiável e atual que seja o retrato vivo da sua ação, da sua eficácia, dos seus pontos críticos, das suas forças e fraquezas. O professor que chega de novo tem de ter a porta aberta para ver e analisar o rumo a seguir.

Conclusão: o computador é hoje o melhor suporte das aprendizagens, da escola e da vida. Quanto mais cedo começar, melhor, e a alfabetização deve começar por aí. Mas não podemos esquecer a outra face do crescimento: brincar, conviver, jogar, praticar desporto, conhecer o mundo das artes, dar oportunidade à liberdade de cada um para realizar os seus sonhos. Este é o espaço que deve ser articulado com o computador e as aprendizagens tradicionais da escola. É preciso equilibrar bem a balança entre os dois polos da vida.

 

Autoria de:

José Afonso Baptista

1 Comentário

  1. Bot Prof 333 diz:

    Caro José Afonso Baptista…

    Quando escreve “2 ) Para desempenhar as funções humanas inacessíveis às máquinas: as relações humanas, o trabalho de grupos, a empatia, a cooperação, a criatividade, os valores, a personalidade, o caráter, as dúvidas, enfim, um largo espetro de variáveis só acessíveis aos humanos.”, estará já desactualizado. Algumas máquinas apresentam já empatia, cooperação, uma criatividade imensa, valores saudáveis, uma persona, um carácter, a dúvida socrática…
    É precisamente nos seres humanos que estas dimensões se encontram e encontrarão cada vez mais em falta.
    Lamento. 🙂

Deixe o seu Comentário

O seu email não vai ser publicado. Os requisitos obrigatórios estão identificados com (*).


Últimas

opiniao