Opinião: Da floresta aos serviços públicos: um fogo que nos consome
Hoje vou falar de fogos, ou melhor, de combate aos fogos. Vou falar de combate aos fogos florestais, aos fogos na saúde, aos fogos na administração interna, aos fogos na Santa Casa, … a todos estes fogos. Na verdade, todos os anos, nesta época do ano, estamos às voltas, a discutir se os fogos florestais foram combatidos de forma eficiente e sobre a competência e funcionalidade dos serviços que gerem este combate. Na verdade, neste como em outros combates, ficamos sempre com a sensação de que os serviços do estado padecem de uma impressionante falta de capacidade de gestão e de profissionalismo no seu comando.
Muitos serviços do Estado enfrentam, de facto, desafios relacionados com a incapacidade de gestão, o que impacta diretamente a qualidade dos serviços prestados à população.
Entre os principais problemas estão a burocracia excessiva, a falta de planeamento estratégico de longo prazo e a alocação ineficiente de recursos. Além disso, a resistência à modernização e à implementação de novas tecnologias, muitas vezes atrasa processos e torna a gestão pública lenta e pouco eficiente.
A falta de treinamento adequado dos servidores e a ausência de indicadores claros de desempenho também contribuem para esta enorme falta de eficácia. Pudemos ver que face a um rombo gigantesco nas suas contas, ao fim de 2 anos ainda não existia um plano de recuperação na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, do mesmo modo que nos damos conta que nos hospitais as folgas e as férias não são planeadas com a devida antecedência e o plafond das horas extraordinárias é gasto logo no inicio do ano… Isso gera uma perceção de ineficácia e desconfiança por parte dos cidadãos, que esperam serviços mais ágeis e transparentes. Todos nos lembramos de como quando o processo da vacinação COVID saiu da esfera do ministério da saúde, os padrões de eficácia melhoraram de forma espetacular e transformaram o Almirante no nosso Herói. Na verdade, quando se profissionaliza a gestão pública, os resultados mudam radicalmente. A recente contratação de um gestor profissional para a Santa Casa veio renovar a esperança de que finalmente haja um caminho para aquela grande instituição.
De igual modo, também esperamos que hospitais, centros de saúde, tribunais, órgãos de polícia, exército, departamentos da Segurança Social, entre outros, vejam a sua gestão profissionalizada.
Tal como as empresas privadas, é tempo de todos estes serviços públicos recorrerem a apoio especializado de consultores na área da eficiência, como “process management”, “lean management”, entre outros. Eles podem melhorar significativamente a gestão pública. Essas abordagens focam-se em otimizar os processos, reduzir desperdícios e aumentar a eficiência operacional, o que é crucial para o setor público, onde a procura por serviços de qualidade é alta e os recursos são limitados. Process management ajuda a mapear, analisar e melhorar os fluxos de trabalho, identificando gargalos e oportunidades para automatizar ou eliminar etapas desnecessárias. Isso facilita a alocação mais eficiente de recursos e a prestação de serviços com maior transparência e agilidade. Por sua vez, o Lean management, foca-se na eliminação de desperdícios, como o excesso de burocracia, retrabalhos e atividades que não acrescentam valor ao cidadão. Aplicando princípios lean, o setor público pode reduzir custos, aumentar a qualidade dos serviços e melhorar a satisfação dos usuários.
Estas abordagens promovem uma mudança cultural no serviço público, orientando as equipes a focarem-se na melhoria contínua e na entrega de valor ao cidadão, o que é crucial para aumentar a confiança e a eficácia governamental. Elas podem ajudar a combater todos estes “fogos” e a devolver ao governo e ao estado uma imagem de comprometimento com a causa pública, ao mesmo tempo que podem permitir reganhar a confiança e o envolvimento da comunidade.