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Opinião: Coimbra com a alta velocidade: to be, or not to be!

03 de setembro às 12h19
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O conceito de cidade média pode ser interpretado de várias formas, mas, em termos gerais, refere-se a uma cidade que, embora com uma população e relevância económica menores do que os grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto, desempenha um papel crucial na organização territorial do país. Estas cidades, como polos de desenvolvimento regional e centros de serviços, funcionam como pontos de convergência regional.
Coimbra é uma destas cidades e há um dado curioso na sua integração territorial: o seu centro urbano é atravessado por um Itinerário Complementar, o IC2.
Mas por que razão esta via atravessa o centro de Coimbra?
A resposta está na combinação da orografia da região com a presença da via fluvial, fazendo com que a travessia Norte-Sul do rio se aproximasse do centro da cidade, um cruzamento geoestratégico que marcou o seu nascimento e crescimento.
Durante séculos, Coimbra beneficiou desta travessia rodoviária. No entanto, com a variante do IC2 na zona Poente da cidade e o desenvolvimento de alternativas como a A1, inicialmente, e a A17, depois, esses benefícios foram diminuindo até se extinguirem. Agora o tráfego de atravessamento é apenas fonte de malefícios.
Estes estiveram sempre presentes na “era do automóvel”, uns de caráter imaterial e outros com consequências materiais pesadas, como o sistema de acessos ao tabuleiro superior da Ponte Açude. A eles se somam os impactos negativos na qualidade de vida das áreas centrais de Coimbra e Santa Clara, onde a poluição atmosférica e acústica é uma constante há décadas.
Neste contexto, surge uma questão decisiva: queremos perpetuar os malefícios desta situação, agravando-os até, quando a oportunidade de os extinguirmos está ao nosso alcance? A relevância desta pergunta quando se propõe uma nova travessia rodoviária a integrar o IC2, entre a Ponte Açude e a nova ponte ferroviária, é indiscutível.
Num momento histórico para Coimbra, com a chegada da alta velocidade em curso, a cidade deve aproveitar a oportunidade para reorganizar o seu centro. A densificação urbanística desta área com espaços residenciais, laborais, de lazer e fruição, é essencial para estender a vitalidade do seu centro antigo a esta nova realidade. Este é, precisamente, o papel que o Plano de Pormenor da Estação de Coimbra (PPEC), atualmente em elaboração, deve assumir.
Como pode o atual Executivo Municipal exigir à Infraestruturas de Portugal, S.A. (IP), a construção de uma nova travessia rodoviária neste local central da cidade de Coimbra? Será para desqualificar toda a futura intervenção em seu redor?
Defendemos que está ao alcance de Coimbra libertar-se deste anátema, multiplicando o retorno do investimento público a realizar a propósito da alta velocidade na cidade. Por isso, na nossa proposta, defendemos a menor densidade possível de vias rodoviárias neste território de excelência do país. (www.parquemultimodaldochoupal.eu)
Querem os cidadãos de Coimbra e as suas entidades manter os malefícios do tráfego de atravessamento, ou estão dispostos a considerar alternativas mais sustentáveis, que projetem a cidade para um futuro mais amigo do ambiente e com um centro urbano de altíssimo conforto humano?
A rede viária existente permite criar soluções viáveis para desviar o tráfego de atravessamento? Além disso, essas alternativas podem ser reforçadas por outras infraestruturas?
Se a A13 for prolongada na zona Nascente de Coimbra até encontrar o IP3, como previsto no Plano Rodoviário Nacional e sem portagens, não se reduziria o tráfego de atravessamento no centro de Coimbra? E se, até à concretização desta medida, fossem introduzidos desportajamentos seletivos para quem acede à A1 através dos nós de Trouxemil, Taveiro e Condeixa?
Podemos ou não discutir este tipo de soluções para aliviar o centro de Coimbra do tráfego de atravessamento? Aliás, não devemos mesmo fazê-lo?

Google Maps

Para que esta mudança aconteça, é fundamental que o tema seja discutido publicamente e que tanto a Câmara Municipal de Coimbra como a IP estejam abertas a considerar soluções concretas. Mais importante ainda, os cidadãos devem participar ativamente neste debate, apresentando ideias, exigindo mudanças concretas e contribuindo para construir uma visão mais sustentável para a cidade, adequada às necessidades futuras.
No próximo dia 17 de Setembro, na audiência que nos foi concedida pelo Secretário de Estado das Infraestruturas, faremos precisamente isto.
Estas medidas podem ter um impacto positivo, reduzindo o número de veículos que atravessam desnecessariamente o centro da cidade, diminuindo assim a poluição e contribuindo para um ambiente urbano mais saudável, tanto para os que já aqui vivem, como para aqueles que desejem viver e investir em Coimbra no futuro.
Num contexto de alta velocidade, é imperativo transformar Coimbra num território de excelência urbana, capaz de atrair investimento qualificado e novas populações vindas de todo o mundo em busca de uma vida mais sustentável. Por isso, a área de intervenção do PPEC deve promover uma densificação urbana multifuncional.
A solução final do PPEC poderá ou não incorporar propostas feitas por cidadãos de Coimbra, mas é absolutamente contraproducente e contraditório querer afirmar uma nova centralidade de Coimbra em torno da Estação e, ao mesmo tempo, defender nesse local uma nova infraestrutura dedicada ao tráfego de atravessamento.
Coimbra tem de fazer uma escolha e estamo-nos a aproximar de um momento-chave para essa decisão: queremos um centro urbano cada vez mais sobrecarregado de veículos desnecessários e poluentes, ou pretendemos um centro que promova o bem-estar dos seus habitantes e projete o seu património ambiental e social a patamares de competitividade decisivos para o seu futuro?
A resposta é clara: queremos uma Coimbra mais verde, mais tranquila e com melhor qualidade de vida e, assim, economicamente pujante.
Resta saber se as entidades competentes estão dispostas a liderar esta mudança.

Autoria de:

Adelino Gonçalves com Luís Paulo Sousa e Paulo Antunes

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